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Para empresários,
estrago já está feito
DA REPORTAGEM LOCAL
A ansiedade do mercado criada
pela alta do dólar e as eleições pode diminuir nesta semana se ficar
mais claro se haverá ou não segundo turno. Essa é a análise de
empresários ouvidos pela Folha.
Ainda assim, na opinião deles, o
estrago está feito.
A indústria eletroeletrônica suspendeu compra e venda na semana passada devido à oscilação
brusca do dólar, informa Paulo
Saab, presidente da Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes
de Produtos Eletroeletrônicos).
"A situação é tão absurda que
ninguém consegue negociar."
De janeiro até julho, diz, o aumento de custos das indústrias
chegou a 30%, principalmente em
razão da elevação do dólar, mas o
repasse para os preços foi da ordem de 8%. "E não estamos nem
levando em conta o aumento da
cotação da moeda norte-americana dos últimos dias. É uma insanidade o que está acontecendo com
o dólar. Não dá para prever mais
nada neste momento", diz Saab.
Na semana passada, segundo
fabricantes do setor, foram liberados poucos lotes de insumos nos
portos do país, o que deve acontecer também nesta semana.
Isso porque, quando as empresas desembaraçam os produtos,
elas precisam pagar por eles pela
cotação do dólar médio da semana. Como a moeda norte-americana disparou nas últimas semanas, elas acabaram atrasando o
desembaraço das mercadorias
nos portos na tentativa de minimizar o aumento de custos.
Redução nas previsões
Os fabricantes do setor eletroeletrônico começaram o ano com
previsão de produzir entre 6% e
8% mais do que em 2001. No meio
do ano reduziram a estimativa para 3% a 3,5% e, logo depois, para
1% a 1,5%. "Não sabemos mais o
que vai acontecer. As encomendas para o final de ano nem começaram ainda", afirma.
A mesma situação vive a indústria de alimentos. A Adria, por
exemplo, informa que as vendas
para o final do ano foram postergadas para depois das eleições.
"Está tudo meio nebuloso", afirma Antonio Zambelli, diretor de
marketing da Perdigão, que esteve em contato com fornecedores
no Rio na semana passada.
No setor de bebidas, porém, há
alguns empresários mais otimistas. "Achamos que podemos vender nos próximos dias o que já havíamos planejado", afirma Augusto César Parada, diretor-superintendente da Kaiser. A cervejaria comercializa entre 23% e 24%
de suas vendas entre novembro e
dezembro.
Termômetro
A indústria de embalagens, considerada termômetro da atividade industrial, mantém a previsão
de produzir 1,5% mais neste ano
sobre 2001, mas chegou a projetar
crescimento de 2,1%.
"Apesar de a maior parte das
matérias-primas ser produzida
no país, elas são commodities, como a celulose e as resinas plásticas. E, nesse cenário de desaquecimento, é difícil repassar aumento
de preços", diz Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Abre
(Associação Brasileira da Indústria de Embalagem).
Fábio Silveira, economista da
MB Associados, diz que existe
uma inflação de custos em vários
setores da economia -da indústria de embalagens até a de cosméticos. Isso, somado ao fato de a
economia estar retraída, pode resultar numa redução acentuada
na produção neste final de ano,
quando as fábricas deveriam estar
operando a pleno vapor.
Costume
O Brasil, na análise de Gilberto
Dupas, presidente do Instituto de
Estudos Econômicos e Internacionais, se acostumou a trabalhar
com produtos importados. Em
90, os artigos estrangeiros representavam 6% do que era consumido no país. Dez anos depois,
esse percentual estava em 22%.
No setor de bens duráveis, informa, esse percentual subiu de 9%
para 45% no período.
Essa elevação do dólar tem levado alguns setores a buscar o caminho inverso: a troca de produtos
importados por nacionais, como
no caso de alguns componentes
para o setor de telecomunicações.
Papel e celulose
Para Bernardo Szpigel, diretor
financeiro da Companhia Suzano
e da BahiaSul, as empresas vão
apresentar prejuízos contábeis no
terceiro trimestre com a alta do
dólar, mas o dinheiro no caixa deverá até aumentar por causa das
exportações.
O dólar valorizado teve impacto
negativo no balanço das empresas, apesar de o pagamento das
dívidas ser parcelado por vários
anos. Ao mesmo tempo, as empresas melhoram seus ganhos
com o aumento da receita com as
vendas externas. "Com a desvalorização do real, o resultado pode
ser ruim, mas a geração de dinheiro em caixa melhora", diz o diretor da Suzano e da BahiaSul.
(FF)
Colaboraram Adriana Mattos e
László Varga, da Reportagem Local, e
Guilherme Barros, editor do Painel S.A.
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