São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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CONJUNTURA

Empresas aguardam definição nas urnas e estabilização do câmbio para retomar investimentos e negociações

Indústria só volta a andar após as eleições

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria vai continuar em compasso de espera nesta semana que antecede as eleições. As negociações com fornecedores de insumos e clientes, já emperradas nos últimos dias por causa da alta brusca do dólar, devem ficar em ritmo ainda mais lento.
O dólar mais caro paralisou os negócios especialmente dos setores mais dependentes de matérias-primas importadas, como o eletroeletrônico. Mas a ansiedade gerada no mercado por conta das oscilações da moeda norte-americana -somada à proximidade das eleições- afetou cadeias produtivas inteiras, como a têxtil.
"Os negócios estão travados", afirma Paulo Skaf, presidente da Abit, associação que reúne a indústria têxtil. Mas, na sua opinião, por um motivo irreal. "A alta do dólar é obra de especulação. Por isso, prefiro acreditar que o câmbio se estabilizará. Se for para o país viver nessa expectativa até o final das eleições, tomara que haja uma decisão no primeiro turno."
A alta do dólar na última semana já embutiu a expectativa de vitória do candidato petista Luiz Inacio Lula da Silva, na análise de Clarice Messer, diretora da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"O cenário político é obviamente dominante neste momento. Mas os empresários entendem que, com Lula ou com José Serra [o candidato do governo, preferido do mercado", a volatilidade do dólar continuará até que seja definido o caminho que o novo governo dará para a economia. Não é num passe de mágica que essa situação vai se inverter."
Benjamin Steinbruch, presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), é um dos empresários que não vêem diferença entre os candidatos. Afirma, no entanto, que já preparou sua empresa para enfrentar a crise cambial.
"Elevamos de 25% para 50% a participação das vendas externas nos nossos negócios já em julho." Também cortou 10% dos quase 10 mil trabalhadores da siderúrgica, para diminuir custos.
Pelo que Clarice observou nos últimos dias, a indústria está sofrendo forte pressão de custos e, para enfrentar a fase de instabilidade, está mais conservadora, menos disposta a investir. "Os empresários querem proteger o caixa, isto é, vão manter uma política rígida de corte de gastos para enfrentar o que vem por aí."
Uma das maiores multinacionais do país do setor de petróleo informa que, com Lula na Presidência, a situação fica mais difícil em 2003, porque ele teria menos apoio no Congresso. Com Lula ou com Serra, no entanto, novos investimentos da empresa ficarão por ora em compasso de espera.
Se a desvalorização do real persistir, na análise de empresários ouvidos pela Folha, os custos vão subir e, como consequência, os preços também. Isso resulta em menos venda e menos produção e, portanto, em menos emprego. Na dúvida, os empresários do setor têxtil decidiram não mais fazer previsões para 2002. No início do ano, eles falavam em aumentar entre 2% e 3% a produção na comparação com 2001.
Na análise desses empresários, se a indústria conseguir produzir em 2002 o mesmo volume do ano passado, será lucro. "O mercado não está disposto a pagar pelos aumentos de custos decorrentes da alta do dólar. Essa situação, portanto, vai reduzir a atividade das fábricas em pelo menos mais uma semana, até a eleição", afirma Roberto Faldini, diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).


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