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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Inteligência coletiva e destruição criadora definem nova era
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Os historiadores do futuro olharão para a passagem do século 20 para o 21 como
uma época marcada pela contradição entre a emergência de
novas formas de inteligência e a
sofisticação crescente das formas de destruição.
Destacarão a bolha especulativa da "nova economia" como
um marco da inovação tecnológica, centrada na organização de
redes inteligentes animadas por
uma inteligência coletiva. Mas
terão de lidar com o colapso
também coletivo do sistema internacional criado depois da Segunda Guerra, marcado pela
proliferação de conflitos armados, levantes de multidões globalizadas e desestruturação sistêmica da economia planetária.
Ao contrário do que previam
os catastrofistas, não houve uma
crise final do capitalismo. As esperanças de uma nova Renascença também foram frustradas
e o mundo acabou mais parecido com uma nova Idade Média.
A noção de história não desapareceu, apesar das tentativas de
alguns filósofos, mas generalizou-se a perplexidade com relação ao próprio sentido do tempo. Não ficava claro se a humanidade avançava ou retrocedia.
A ambiguidade da "seta do
tempo" encontrava paralelo numa vertigem da percepção do
espaço, pois o poder das corporações multinacionais e a expansão contínua de aplicações
socioeconômicas das tecnologias de informação e comunicação fortaleciam redes sobrepostas, aparentemente convergentes, muito além das fronteiras
tradicionais. Mas a conquista de
territórios e fontes de energia,
no velho estilo colonialista, tornava a luta humana por territórios tão bárbara quanto nos primórdios da evolução.
Entre as visões de mundo que
hoje se confrontam na construção e gestão de redes de informação e comunicação, a de uma
"inteligência coletiva" é uma das
mais notáveis pelo seu vigor intelectual, combinado a uma potente metáfora. Pierre Lévy, um
filósofo da nova era que criou a
cátedra de inteligência coletiva
do Canadá, convocava para o
desenvolvimento de uma ciência da inteligência coletiva.
A imagem de uma "destruição
criadora", criada por um dos
mais importantes pensadores
do século 20, Joseph A. Schumpeter, ganhou relevância ainda
maior no início do século 21.
Economista atento à questão
do desenvolvimento econômico
e ao estudo das inovações tecnológicas, Schumpeter era um catastrofista que não acreditava no
socialismo. Deixou uma lição: a
evolução nos aspectos tecnológicos do design, principalmente
de ferramentas e equipamentos,
não resolve a indeterminação do
seu valor social, fortemente condicionado pelo modelo de desenvolvimento de cada país.
Sem mudanças no "contexto
de desenvolvimento", em especial na inserção internacional de
cada empresa, região ou país, a
inovação tecnológica é inócua
ou insustentável, inclusive do
ponto de vista ambiental.
O contraponto entre inteligência e destruição é talvez o que
hoje mais provoca perplexidades e mobilizações políticas em
todo o mundo. Fica ainda mais
gritante em projetos como o do
programa TIA ("Total Information Awareness") do governo
dos EUA, um sistema de inteligência militar supostamente capaz de rastrear e interpretar toda a informação gerada pelo
movimento de pessoas pelo
mundo. Uma versão turbinada
das metodologias de CRM (softwares de administração do relacionamento com clientes).
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