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ATAQUE DO IMPÉRIO
ECONOMIA BOMBARDEADA
Ações americanas sofreram desvalorização de 15%; aéreas e tecnológicas foram as mais atingidas
US$ 1 tri evapora das Bolsas antes da guerra
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes mesmo do início da guerra no Iraque, o mercado de ações
norte-americano já havia amargado uma expressiva perda de
US$ 1,1 trilhão como consequência direta dos temores em relação
ao conflito. Esse valor que evaporou das Bolsas de Valores dos Estados Unidos é o resultado de
uma queda de 15% nos preços das
ações, segundo um recente estudo
feito por economistas das universidades Stanford e Harvard.
Para estimar o percentual de
queda do mercado de ações que
poderia ser atribuído ao medo da
guerra, os economistas Andrew
Leigh, de Harvard, Justin Wolfers
e Eric Zitzewitz, ambos de Stanford, acompanharam os movimentos de uma Bolsa eletrônica
(www.tradesports.com) que oferece contratos futuros chamados
"Iraque-Saddam".
Trata-se de quatro contratos
-apelidados pelos economistas
de "papéis Saddam"- nada convencionais que permitem a investidores apostar no tempo de permanência de Saddam Hussein no
poder.
Os três pesquisadores computaram as perdas que os mercados de
ações sofreram nos momentos
em que a Bolsa eletrônica apontava o aumento da probabilidade
do conflito e concluíram que a
queda total chegou a 15%.
Segundo o estudo, as ações mais
afetadas foram as de companhias
aéreas, as tecnológicas e as de
bens de consumo.
"Esses setores e todos os que dependem do que chamamos de
consumo arbitrário, geralmente
não essencial, foram os que mais
sofreram. Isso dá uma indicação
do efeito negativo da guerra sobre
os índices de confiança dos consumidores", diz Eric Zitzewitz,
professor de economia da Universidade Stanford.
Confiança abalada
A tendência apontada pelo estudo tem sido confirmada pela divulgação dos índices de confiança
do consumidor nos EUA -assim
como no Reino Unido-, que estão em níveis históricos muito
baixos.
O problema é que a enfraquecida economia norte-americana vinha sendo sustentada justamente
pelo ânimo dos consumidores,
que seguiam gastando dinheiro
apesar da crise.
O grande temor, agora, é que a
combinação de guerra com os
problemas anteriores da economia mine a confiança dos consumidores, principalmente os norte-americanos.
Recuperação distante
É da natureza dos mercados financeiros antecipar resultados de
acontecimentos esperados para o
futuro. Isso acaba se refletindo,
também com antecedência, nos
preços de ativos, como ações,
moedas e commodities.
Esses movimentos viabilizam a
realização de estudos como o feito
pelos pesquisadores de Harvard e
Stanford. A grande pergunta que
fica é: quais são as chances de que
as perdas provocadas pelo temor
da guerra sejam recuperadas depois do conflito em caso da, ainda
provável, vitória da coalizão entre
EUA e Reino Unido?
A resposta de Zitzewitz não é
das mais alentadoras. Segundo o
especialista, os movimentos do
mercado futuro indicam que há
chances de recuperação de, aproximadamente, 50% da riqueza
que evaporou das Bolsas.
Ou seja, Zitzewitz acredita que
cerca de US$ 550 bilhões poderão
ser recuperados depois da guerra.
A outra metade deverá ser computada como prejuízo.
"É muito improvável que uma
guerra com essas dimensões termine com um custo zero para o
mercado financeiro. O que nos espanta é o valor expressivo das
perdas, que ultrapassam em muito, por exemplo, os cerca de US$
70 bilhões estimados em despesas
militares", afirma o pesquisador.
O risco disso é o abalo ainda
maior da confiança dos investidores, grupo que, assim como os
consumidores, é considerado
fundamental para a recuperação
da economia global.
Assim como o mercado de
ações não deve disparar depois da
guerra, as chances de queda nos
preços do petróleo também têm
limites. Com base nos movimentos dos contratos que apostam na
saída de Saddam Hussein e das
oscilações das cotações do petróleo no mercado futuro, os economistas de Stanford e Harvard não
apostam em forte redução nas cotações da commodity.
Petróleo
O modelo econométrico (baseado em métodos matemáticos e estatísticos) montado por eles e que
leva em conta essas variáveis
mostra que a guerra causou uma
elevação de US$ 10 por barril de
petróleo.
No entanto, o espaço para recuo
dos preços da commodity é reduzido. "Encontramos evidências
importantes de que os preços devem recuar no longo prazo, mas
esses efeitos parecem pequenos e
frágeis", diz Zitzewitz.
Segundo o estudo, o cenário intermediário traçado pelo CSIS
(Centro de Estudos Estratégicos e
Internacionais), que prevê uma
guerra relativamente rápida, mas
com consequências bastante negativas para os preços do petróleo, é o mais provável.
De acordo com essa estimativa,
poderia haver aumento dos preços em decorrência da interrupção da produção iraquiana por,
pelo menos, seis meses. Com isso,
os preços do petróleo atingiriam
uma média de US$ 37 neste ano.
Os desdobramentos da guerra,
até agora, parecem confirmar as
conclusões dos economistas de
Harvard e Stanford.
A certeza dos investidores de
que o regime de Saddam será destituído logo parece se esvanecer a
cada dia (leia texto abaixo).
Ao mesmo tempo, crescem os
riscos de interrupção da produção do petróleo no Iraque por
tempo mais longo do que o previsto. De acordo com uma reportagem publicada no diário econômico "The Wall Street Journal",
comandantes britânicos já prevêem a suspensão das exportações do país por, aproximadamente, três meses.
Menor oferta mundial de petróleo implica preços mais altos. O
problema disso é que a alta do
preço do petróleo funciona como
um imposto sobre a produção, ao
encarecer os custos das empresas.
E isso põe em risco a já frágil
economia mundial e ameaça abalar ainda mais a confiança de ariscos consumidores e investidores.
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