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FÁBRICA DE LUCROS
Despesas financeiras subiram de 3,5% para 35% do faturamento das companhias durante o governo FHC
Bancos engolem a receita de empresas do setor produtivo
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Se o governo Lula pretende mudar os rumos da economia e dar
prioridade à produção, não poderá demorar para mudar o modelo. Nos oito anos do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a política econômica só aumentou a transferência de recursos das empresas não-financeiras
para os bancos.
A conclusão consta de estudo
realizado pela empresa de consultoria Austin Asis, com base nos
balanços de 300 empresas não-financeiras e 100 bancos, em 1994,
1998 e 2002. Em 1994, as despesas
financeiras das empresas do setor
produtivo representavam 3,5%
das receitas; em 1998, o número
subiu para 14,2%; e, em 2002,
atingiu 35,1%.
Para dar uma idéia dos valores
envolvidos, no ano passado, as
não-financeiras transferiram para
os bancos R$ 68,4 bilhões de uma
receita total de R$ 194,9 bilhões.
A empresa que mais transferiu
recursos para os bancos foi a Vale
do Rio Doce. A mineradora gastou, em 2002, R$ 5,8 bilhões com
juros e amortização de dívidas,
um montante que corresponde a
61,2% dos R$ 8,2 bilhões de seu faturamento.
Logo depois vêm Light (R$ 5,2
bilhões), Eletropaulo (R$ 2,7 bilhões), Telesp (R$ 2,7 bilhões),
Embraer (R$ 2,6 bilhões) e Sabesp
(R$ 2,4 bilhões).
Farra da rentabilidade
Esses valores explicam também
o crescimento expressivo da rentabilidade e do lucro dos bancos
durante os últimos oito anos. Em
1994, a rentabilidade (lucro líquido sobre o patrimônio) das empresas não-financeiras foi de 5%,
caiu para 3% em 1998, e, em 2002,
foi de apenas 1%.
Já a rentabilidade dos bancos foi
de 10,6% em 1994, subiu para
15,7% em 1998 e, em 2002, atingiu
o recorde de 24,5%.
Segundo Erivelto Rodrigues,
presidente da Austin Asis, o grande motivo para esse descompasso
entre os ganhos dos bancos e os
das empresas não-financeiras é o
custo dos empréstimos. Em outras palavras, os juros cobrados
pelos bancos.
"O crédito no Brasil é caro, escasso e de curtíssimo prazo. É isso
que inviabiliza o crescimento do
país", diz Rodrigues.
Em 1994, os bancos obtiveram
um lucro de R$ 2,5 bilhões. No
ano passado, esse resultado pulou
para R$ 22,8 bilhões, um salto de
812% em relação a 1994. Nesse período, a inflação foi de 101%.
Já as empresas não-financeiras
saíram de um lucro de R$ 8,5 bilhões em 1994 para um prejuízo
de R$ 39,7 bilhões em 2002. "O
modelo econômico adotado pelo
governo passado foi equivocado
para conseguir o desenvolvimento econômico sustentável", diz
Rodrigues.
De acordo com Rodrigues, não
há motivos para o país manter os
juros no patamar atual de 26,5%
ao ano. A inflação está dando sinais de queda, o dólar parece ter
se estabilizado em torno de R$
3,40 e R$ 3,45 e os efeitos da guerra parecem que não serão tão prejudiciais ao país.
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