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POLÍTICA MONETÁRIA
Assim que volatilidade do mercado diminuir, Banco Central quer recompor reservas, afirma diretor
Governo planeja retomar compra de dólar
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O diretor de Política Monetária
do Banco Central, Luiz Augusto
Candiota, diz que, assim que diminuir a volatilidade no mercado
financeiro, o governo retomará
sua política de comprar dólares
para recompor as reservas. Leia a
seguir a entrevista concedida à
Folha.
(LEONARDO SOUZA)
Folha - Na ata do Copom, o BC pareceu demonstrar pouca preocupação com a alta do dólar e do preço
do petróleo nas últimas semanas.
Quinta-feira foi divulgado o IGP-M
[Índice Geral de Preços do Mercado] deste mês [1,31%], acima do
que esperava o mercado financeiro. Isso não aumenta a preocupação com a inflação?
Luiz Augusto Candiota - A ata
procura trazer questão importante que diz respeito à temporalidade. Nós não atribuímos à subida
do preço do petróleo e à recente
subida do dólar um fator permanente. Estamos olhando os recentes acontecimentos em relação às
commodities [produtos básicos],
o petróleo em particular, o comportamento do dólar e as demais
variáveis para podermos tirar um
entendimento do quão temporário esses ajustes de preços serão.
Folha - Se ficar configurado um
choque de oferta, o BC procuraria
acomodar esse choque ou ainda assim perseguiria o centro de meta?
Candiota - É importante lembrar
que as bandas são feitas para acomodar choques de oferta típicos,
quando de caráter permanente.
Portanto o sistema de metas já
contempla essa hipótese por si só.
O que precisamos avaliar é o caráter temporal do ajuste de preços.
Folha - Ou seja, caracterizado o
efeito permanente do choque, o BC
utilizaria a margem de tolerância?
Candiota - Essas [petróleo e dólar] não são as únicas coisas que
impactam a inflação. Podemos ter
efeitos contrários, como [queda]
nos preços agrícolas, nas tarifas.
Folha - Se houver um fator de
pressão sobre a inflação de um lado, mas outros que o contrabalancem, o BC pode não precisar ter de
acomodar esse choque de oferta?
Candiota - É exatamente a análise que é feita todos os meses nas
reuniões do Copom. Da mesma
forma que você teve no ano passado um movimento de valorização
do real, você observou nos últimos meses um movimento contrário. Observamos também um
arrefecimento nos preços das
commodities, assim como notícias mais recentes de um certo arrefecimento também no preço do
petróleo.
Folha - O discurso do presidente
do BC tem sido o de que a economia
brasileira está muito mais sólida
hoje para suportar turbulências externas do que no passado. A volatilidade no mercado, causada por fatores externos, foi a justificativa
dada na última ata do Copom para
a interrupção no corte de juros.
Não há aí uma contradição?
Candiota - Não há nenhuma
contradição. Na ata está bem descrito que, de fato, a economia brasileira está mais preparada para
enfrentar turbulências externas e
movimentos de mercado abruptos. Mas temos de lembrar que toda turbulência externa aumenta o
grau de incertezas. À medida que
o tempo vai passando, as incertezas vão se dissipando e a fotografia se torna mais clara para que
nós possamos tomar a decisão
num quadro de certezas maiores.
Folha - Muitos analistas entenderam que o BC admitiu na ata o
abandono do centro da meta deste
ano. Essa leitura está correta?
Candiota - A ata não disse isso. O
que ata disse foi uma questão factual, fazendo projeções de cenários. Num desses cenários, a inflação ficaria ligeiramente acima da
meta caso fossem mantidos os juros [em 16% ao ano] e o dólar no
patamar da véspera do Copom
[R$ 3,10]. A ata levantou também
um outro cenário, para o segundo
semestre deste ano e o primeiro
de 2005, que mostra trajetória benigna para a inflação com relação
às metas de 2004 e 2005. Em momento nenhum dissemos que
abandonamos o centro da meta.
O sistema de metas, em definido o
caráter permanente do choque de
ofertas, é passível de absorção
desse impacto no nível de preços.
Para isso a existência das bandas.
Folha - Não é um problema que o
cenário aponte para inflação acima
da meta?
Candiota - Não é, porque, se ficar
caracterizado como um choque
de ofertas permanente, o sistema
de metas é para absorver isso.
Folha - Desde que o sistema de
metas de inflação foi implantado
[1999], nós nunca tivemos taxa de
juros reais abaixo de 10% por um
período prolongado. O país está
preparado para ter juros reais [descontada a inflação] abaixo de 10%?
Candiota - A questão da taxa de
juros real depende, de fato, da capacidade da economia brasileira
em incrementar seus investimentos. Com o crescimento dos investimentos, da produtividade, do
nível de poupança e a realização
das reformas previstas... À medida que esses desafios vão se consolidando, não há por que não
acreditar que num horizonte longo de tempo nós não possamos
conviver com taxas de juros reais
mais baixas.
Folha - Como anda o plano do BC
de comprar dólares?
Candiota - A política de aquisição de reservas do governo continua de pé. Entendemos que, à
medida que tivermos condições
adequadas de mercado e condições adequadas de volatilidade,
não há por que não retomar a
acumulação de reservas.
Folha - Qual o grau de importância atribuído pelo BC à necessidade
de formação de reservas internacionais para não precisar renovar o
acordo com FMI?
Candiota - Quando fizemos a
projeção de balanço de pagamentos para 2004, no final de 2003, as
projeções consideradas para o final deste ano eram de reservas líquidas da ordem de US$ 20 bilhões. Naquela época, já se falava
em sair do acordo com o FMI ao
final do ano. Essa é uma decisão
que será tomada pelo governo.
Quero dizer que o nível de reservas que já temos hoje é o que está
projetado para o final do ano. Estamos com US$ 21 bilhões de reservas líquidas.
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