São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2006

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Se o juro cair, já estará bom, afirma Lula

Após as turbulências da semana passada, presidente admite redução no ritmo de queda da taxa Selic adotado pelo BC

No mercado, já é quase consenso de que o corte a ser promovido pelo Copom amanhã ficará em apenas meio ponto percentual

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Se continuarem baixando, para mim já estará bom", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em conversa reservada ontem ao comentar a sua expectativa em relação à reunião desta semana do Copom (Comitê de Política Monetária).
Ou seja, Lula já admite que haja diminuição no ritmo de queda de juros implementado pelo BC ao longo do início deste ano devido às turbulências internacionais recentes que afetaram a cotação do real.
O Copom é o órgão do BC (Banco Central) que se reúne a cada 45 dias para fixar a taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 15,75% anuais.
A expectativa do presidente é chegar ao momento principal da campanha eleitoral, os meses de agosto e setembro, com a menor taxa de juros da história recente do país, nominal e real.
Daí seu cuidado em não melindrar o BC, pressionando-o a continuar a reduzir a taxa em 0,75 ponto numa hora em que talvez não possa mais fazê-lo. O BC costuma aumentar seu conservadorismo quando pressionado por Lula e auxiliares.
Hoje, há quase consenso no mercado de que os juros cairão, no máximo, 0,5 ponto percentual amanhã. Quem olha para os indicadores de inflação e nível de atividade diz que até haveria espaço para uma redução maior, de 0,75 ponto. Mas a avaliação é que os diretores do Banco Central optarão por cautela e conservadorismo.
"Havia bastante espaço [para continuar com o ritmo de queda dos juros]. Mas, sobretudo por conta da volatilidade internacional, que deve ser tomada como aumento das incertezas, o corte deve ser de 0,5 ponto percentual", diz Roberto Padovani, sócio da Tendências.
Na semana passada, a pesquisa do Banco Central com analistas do setor privado já mostrava que se esperava corte de 0,5 ponto. Nesta semana não houve mudança na mediana das expectativas, mas quem ainda dizia que existia a probabilidade de ocorrer um corte de 0,75 ponto abandonou a hipótese depois da forte reação dos mercados financeiros na semana passada, quando Bolsas e moedas oscilaram fortemente em todo o mundo.

Incertezas com o Fed
A grande incerteza que ronda a cabeça de investidores por toda a economia internacional é o futuro da política monetária nos EUA. Ninguém sabe ao certo como Ben Bernanke, o novo presidente do Fed, o banco central dos EUA, conduzirá o aperto monetário que seu antecessor, Alan Greenspan, começou. A charada pode começar a ser solucionada amanhã, quando o Fed divulga a ata de sua última reunião. Claro, como toda a informação que chega ao mercado financeiro, o conteúdo da ata pode acalmar ou criar mais nervosismo nos mercados.
Por conta dessa indefinição é que cresce o consenso por aqui de que o BC brasileiro deve optar pela cautela, reduzindo a taxa básica de juros, mas mais lentamente do que vinha fazendo. Até agora, o Copom fez três quedas consecutivas de 0,75 ponto em 2006, além de outras três quedas de 0,50 e uma de 0,25 ponto no ano passado.

Desaceleração natural
"É natural que o Comitê de Política Monetária do BC desacelere o ritmo dos cortes da taxa de juros à luz de um cenário externo mais volátil e à medida que os investidores ficam mais cautelosos", diz Rafael Guedes, diretor-executivo da agência de classificação de riscos Fitch.
"Tendo a achar que os membros do Copom vão sancionar o consenso e cortar os juros em 50 pontos básicos [0,5 ponto], diz Alexandre Maia, da Gap.
Maia até assume um risco de que sua projeção possa estar equivocada. Mas não para baixo. Na avaliação dele, se o BC surpreender, o fará reduzindo os juros menos até do que espera a maioria dos economistas ouvidos pelo próprio BC em sua pesquisa semanal.
A pesquisa de ontem mostrou poucas mudanças, apesar de todo o nervosismo que se instalou nos mercados na semana passada. A mais significativa, apesar de ainda assim marginal: a taxa de câmbio prevista para o fim de junho saltou de R$ 2,11 na semana passada para R$ 2,16 nesta.


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