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Se o juro cair, já estará bom, afirma Lula
Após as turbulências da semana passada, presidente admite redução no ritmo de queda da taxa Selic adotado pelo BC
No mercado, já é quase consenso de que o corte a ser promovido pelo Copom amanhã ficará em apenas meio ponto percentual
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Se continuarem baixando,
para mim já estará bom", disse
o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva em conversa reservada
ontem ao comentar a sua expectativa em relação à reunião
desta semana do Copom (Comitê de Política Monetária).
Ou seja, Lula já admite que
haja diminuição no ritmo de
queda de juros implementado
pelo BC ao longo do início deste
ano devido às turbulências internacionais recentes que afetaram a cotação do real.
O Copom é o órgão do BC
(Banco Central) que se reúne a
cada 45 dias para fixar a taxa
básica de juros, a Selic, atualmente em 15,75% anuais.
A expectativa do presidente é
chegar ao momento principal
da campanha eleitoral, os meses de agosto e setembro, com a
menor taxa de juros da história
recente do país, nominal e real.
Daí seu cuidado em não melindrar o BC, pressionando-o a
continuar a reduzir a taxa em
0,75 ponto numa hora em que
talvez não possa mais fazê-lo. O
BC costuma aumentar seu conservadorismo quando pressionado por Lula e auxiliares.
Hoje, há quase consenso no
mercado de que os juros cairão,
no máximo, 0,5 ponto percentual amanhã. Quem olha para
os indicadores de inflação e nível de atividade diz que até haveria espaço para uma redução
maior, de 0,75 ponto. Mas a
avaliação é que os diretores do
Banco Central optarão por cautela e conservadorismo.
"Havia bastante espaço [para
continuar com o ritmo de queda dos juros]. Mas, sobretudo
por conta da volatilidade internacional, que deve ser tomada
como aumento das incertezas,
o corte deve ser de 0,5 ponto
percentual", diz Roberto Padovani, sócio da Tendências.
Na semana passada, a pesquisa do Banco Central com
analistas do setor privado já
mostrava que se esperava corte
de 0,5 ponto. Nesta semana não
houve mudança na mediana
das expectativas, mas quem
ainda dizia que existia a probabilidade de ocorrer um corte de
0,75 ponto abandonou a hipótese depois da forte reação dos
mercados financeiros na semana passada, quando Bolsas e
moedas oscilaram fortemente
em todo o mundo.
Incertezas com o Fed
A grande incerteza que ronda
a cabeça de investidores por toda a economia internacional é o
futuro da política monetária
nos EUA. Ninguém sabe ao certo como Ben Bernanke, o novo
presidente do Fed, o banco central dos EUA, conduzirá o aperto monetário que seu antecessor, Alan Greenspan, começou.
A charada pode começar a ser
solucionada amanhã, quando o
Fed divulga a ata de sua última
reunião. Claro, como toda a informação que chega ao mercado financeiro, o conteúdo da
ata pode acalmar ou criar mais
nervosismo nos mercados.
Por conta dessa indefinição é
que cresce o consenso por aqui
de que o BC brasileiro deve optar pela cautela, reduzindo a taxa básica de juros, mas mais
lentamente do que vinha fazendo. Até agora, o Copom fez três
quedas consecutivas de 0,75
ponto em 2006, além de outras
três quedas de 0,50 e uma de
0,25 ponto no ano passado.
Desaceleração natural
"É natural que o Comitê de
Política Monetária do BC desacelere o ritmo dos cortes da taxa de juros à luz de um cenário
externo mais volátil e à medida
que os investidores ficam mais
cautelosos", diz Rafael Guedes,
diretor-executivo da agência de
classificação de riscos Fitch.
"Tendo a achar que os membros do Copom vão sancionar o
consenso e cortar os juros em
50 pontos básicos [0,5 ponto],
diz Alexandre Maia, da Gap.
Maia até assume um risco de
que sua projeção possa estar
equivocada. Mas não para baixo. Na avaliação dele, se o BC
surpreender, o fará reduzindo
os juros menos até do que espera a maioria dos economistas
ouvidos pelo próprio BC em
sua pesquisa semanal.
A pesquisa de ontem mostrou poucas mudanças, apesar
de todo o nervosismo que se
instalou nos mercados na semana passada. A mais significativa, apesar de ainda assim
marginal: a taxa de câmbio prevista para o fim de junho saltou
de R$ 2,11 na semana passada
para R$ 2,16 nesta.
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