São Paulo, terça-feira, 30 de maio de 2006

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SOCIAIS&CIAS.

Empresas resistem a ações de atendimento a infrator

Experiências bem-sucedidas indicam a possibilidade de resgatar adolescentes por meio de oportunidades de emprego e aprendizagem

Preconceito e receio de associação a problemas de segurança barram iniciativas

JULIANA GARÇON
DA REDAÇÃO

Seja por temor de reincidência, por receio de ter sua imagem relacionada a problemas criminais ou por preconceito, poucas empresas se voltam para ações que visam o atendimento a jovens infratores.
"Há quem pense "estão ajudando trombadinha" quando vê projetos voltados a esse público", diz Sérgio Mindlin, presidente da Fundação Telefônica, que desenvolve um programa de apoio ao cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, o Medida Legal, com atividades esportivas, artísticas e de informática, além da assistência de especialistas.
"As empresas tomam o assunto do ponto de vista da mídia", analisa Elizabeth Pereira dos Santos, professora de RH e comportamento organizacional, responsabilidade e ética da PUC. "Na gradação do que estão dispostas a ajudar, vêm primeiro os excluídos por miséria ou falta de educação, seguidos dos excluídos por deficiências."
O secretário de parcerias da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor), Marcos Trindade, pontua: "Há preconceito. Temos dificuldade até para ser atendidos nas empresas". A maior parte dos convênios, destaca, tem na contraparte uma empresa pública.
CPTM, Metrô e Dersa, por exemplo, contratam egressos da fundação como estagiários por meio de um convênio com a Secretaria de Estado do Trabalho, que subsidia a remuneração. "Quando estão trabalhando, mais de 90% deles não dão problemas, pois não querem perder a oportunidade."
Há exceções. O Pão de Açúcar criou, em 2004, o Gente de Futuro, que emprega jovens em liberdade assistida ou em semiliberdade. "Fizemos um rigoroso processo seletivo com mais de 300 perfis. Admitimos 88 jovens e só 25 saíram. É metade da rotatividade rotineira no varejo", conta Marília Parada, diretora de planejamento e desenvolvimento de RH. "Não basta contratar. É preciso integrar e se preparar para problemas de desempenho e disciplina. Eles não estão acostumados com a rotina e lidam com autoridade em razão de padrões como o pai ou o monitor."
A fase de cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto -que podem ser posteriores à internação ou independente dela- é a mais propícia para a intervenção, avalia Mindlin. "A probabilidade de reincidência para atendidos por programas estruturados não chega a 2%", diz, apoiado na história do Medida Legal com mais de 300 infratores.

Curso disputado
Mas o atendimento muro adentro pode ter papel decisivo na recuperação de adolescentes em conflito com a lei. Na unidade Mooca da Febem, as internas podem participar de um curso de manicure e assistente de cabeleireiro criado em 2003 pelo salão de beleza Beka. A empresa montou a série de aulas e buscou parceiros comerciais para fornecer equipamentos e insumos.
Hoje, o Projeto Brasil Beleza é tocado pela fundação, que contratou a instrutora das primeiras turmas. As 20 vagas são disputadas pelas moças da unidade, que treinam nas colegas de salão e nas outras internas. "Mais que profissionalização, é uma questão de auto-estima, que acaba estimulando outros fatores no cumprimento da medida", diz Marília Moreira Graciano, diretora da unidade.
São iniciativas positivas, avalia Karyna Sposato, diretora-executiva do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud). "Mas as ações deveriam abranger complementação de renda, apoio à escolaridade e capacitação para o trabalho."


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