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SOCIAIS&CIAS.
Empresas resistem a ações de atendimento a infrator
Experiências bem-sucedidas indicam a possibilidade de resgatar adolescentes por meio de oportunidades de emprego e aprendizagem
Preconceito e receio de associação a problemas de segurança barram iniciativas
JULIANA GARÇON
DA REDAÇÃO
Seja por temor de reincidência, por receio de ter sua imagem relacionada a problemas
criminais ou por preconceito,
poucas empresas se voltam para ações que visam o atendimento a jovens infratores.
"Há quem pense "estão ajudando trombadinha" quando vê
projetos voltados a esse público", diz Sérgio Mindlin, presidente da Fundação Telefônica,
que desenvolve um programa
de apoio ao cumprimento de
medidas socioeducativas em
meio aberto, o Medida Legal,
com atividades esportivas, artísticas e de informática, além
da assistência de especialistas.
"As empresas tomam o assunto do ponto de vista da mídia", analisa Elizabeth Pereira
dos Santos, professora de RH e
comportamento organizacional, responsabilidade e ética da
PUC. "Na gradação do que estão dispostas a ajudar, vêm primeiro os excluídos por miséria
ou falta de educação, seguidos
dos excluídos por deficiências."
O secretário de parcerias da
Febem (Fundação Estadual do
Bem-Estar do Menor), Marcos
Trindade, pontua: "Há preconceito. Temos dificuldade até
para ser atendidos nas empresas". A maior parte dos convênios, destaca, tem na contraparte uma empresa pública.
CPTM, Metrô e Dersa, por
exemplo, contratam egressos
da fundação como estagiários
por meio de um convênio com a
Secretaria de Estado do Trabalho, que subsidia a remuneração. "Quando estão trabalhando, mais de 90% deles não dão
problemas, pois não querem
perder a oportunidade."
Há exceções. O Pão de Açúcar criou, em 2004, o Gente de
Futuro, que emprega jovens
em liberdade assistida ou em
semiliberdade. "Fizemos um
rigoroso processo seletivo com
mais de 300 perfis. Admitimos
88 jovens e só 25 saíram. É metade da rotatividade rotineira
no varejo", conta Marília Parada, diretora de planejamento e
desenvolvimento de RH. "Não
basta contratar. É preciso integrar e se preparar para problemas de desempenho e disciplina. Eles não estão acostumados
com a rotina e lidam com autoridade em razão de padrões como o pai ou o monitor."
A fase de cumprimento de
medidas socioeducativas em
meio aberto -que podem ser
posteriores à internação ou independente dela- é a mais propícia para a intervenção, avalia
Mindlin. "A probabilidade de
reincidência para atendidos
por programas estruturados
não chega a 2%", diz, apoiado
na história do Medida Legal
com mais de 300 infratores.
Curso disputado
Mas o atendimento muro
adentro pode ter papel decisivo
na recuperação de adolescentes em conflito com a lei. Na
unidade Mooca da Febem, as
internas podem participar de
um curso de manicure e assistente de cabeleireiro criado em
2003 pelo salão de beleza Beka.
A empresa montou a série de
aulas e buscou parceiros comerciais para fornecer equipamentos e insumos.
Hoje, o Projeto Brasil Beleza
é tocado pela fundação, que
contratou a instrutora das primeiras turmas. As 20 vagas são
disputadas pelas moças da unidade, que treinam nas colegas
de salão e nas outras internas.
"Mais que profissionalização, é
uma questão de auto-estima,
que acaba estimulando outros
fatores no cumprimento da
medida", diz Marília Moreira
Graciano, diretora da unidade.
São iniciativas positivas, avalia Karyna Sposato, diretora-executiva do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas
para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente (Ilanud). "Mas as ações deveriam
abranger complementação de
renda, apoio à escolaridade e
capacitação para o trabalho."
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