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CÂMBIO
Euro chega perto da paridade com a moeda americana, abalada com a desconfiança sobre a recuperação do país
Mudanças nos EUA afetam força do dólar
PERONET DESPEIGNES
DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON
Três premissas básicas sustentavam o dólar, como pilares de concreto, permitindo que ele resistisse a implosões das Bolsas, agitações políticas, ataques terroristas,
déficits comerciais cada vez maiores, explosões no Oriente Médio e
recessões que marcaram os últimos anos:
1) O setor de alta tecnologia -a
chamada nova economia- se recuperaria da recessão e continuaria por tempo indefinido a gerar
crescimento superior ao de outras
grandes economias.
2) As condições geopolíticas e a
política econômica continuariam
a ser favoráveis.
3) Em consequência das duas
anteriores, os juros reais nos EUA
continuariam altos.
Nova realidade
Essas premissas estão caindo
por terra, fazendo o dólar aproximar-se da paridade com o euro,
pela primeira vez desde fevereiro
de 2000.
O fluxo de investimentos estrangeiros que sustentou o dólar
no passado está diminuindo devido ao temor de que a economia
dos Estados Unidos, embora continue numa posição à frente das
outras, não consiga manter a
dianteira considerável que desfrutou em relação às outras grandes economias, durante todo o final dos anos 1990.
De fato, a fraqueza do dólar parece estar ligada muito mais a dúvidas com relação ao futuro da
economia americana do que à
confiança no futuro da zona do
euro, onde o crescimento continua fraco, a inflação ainda preocupa, as Bolsas continuam sem vigor e as perspectivas de uma mudança significativa em direção a
uma política mais pró-mercado e
a um dinamismo em estilo americano ainda se configuram distantes da realidade.
Como prova disso, tanto o dólar
quanto o euro caíram para seu
ponto mais baixo em anos em
comparação com algo que alguns
economistas vêem como sendo o
padrão monetário mais importante de todos: o ouro.
O dólar e a confiança na economia e na política que estão por
trás dele estão caindo mais rápido, só isso.
Essa erosão reflete o fato de que,
segundo alguns analistas, o dólar
estava "perfeitamente apreçado"
antes de os economistas começarem a avaliar as imperfeições da
economia americana.
O dólar se manteve forte durante toda a recessão do ano passado.
Só começou a oscilar de maneira
significativa neste ano, quando se
tornou claro para os investidores
que a nova economia -o misto
de inflação baixa e crescimento
econômico acelerado liderado pelo setor de alta tecnologia- não
ia retornar para pôr fim à recessão
no país.
O crescimento econômico tem
sido anêmico e aleatório, liderado
pelo setor automotivo, o habitacional e outros que integram a
"velha economia", o que se reflete
no fato de que a média industrial
Dow Jones superou o índice Nasdaq durante o ano todo.
Também pesou sobre o dólar o
medo de que os esforços feitos pelos Estados Unidos para se protegerem contra o terrorismo reduzam sua eficiência econômica
-que tempo, energia, mão-de-obra e capital em quantidades
consideráveis sejam desviados
para a segurança, à custa da inovação privada e da produção de
outros bens e serviços.
Ao mesmo tempo, os EUA deram passos para impor tarifas ao
aço e à madeira e para ampliar
seus subsídios agrícolas. A perspectiva de novas medidas de segurança serem adotadas em portos e nos postos de travessia das
fronteiras dos EUA suscitaram temores quanto a novos obstáculos
à globalização e aos benefícios geradores de produtividade que ela
proporcionou para a economia
ao longo dos últimos dez anos.
Crise de confiança
Soma-se a tudo isso a crise contínua, pós-Enron, de confiança
dos investidores na qualidade da
direção e da contabilidade das
maiores corporações americanas.
A fraqueza renovada da economia reduziu as taxas de juros
americanas, que já são inferiores
às vigentes na Europa ocidental,
tornando os Estados Unidos um
lugar ainda menos atraente para
os investidores em renda fixa, em
todo o planeta.
A sensibilidade do dólar em relação a tudo isso é ampliada pela
profunda dependência nacional
na poupança externa. O déficit
comercial de US$ 450 bilhões por
ano requer cerca de US$ 1,2 bilhão
por dia em fluxos líquidos de capital estrangeiro para manter o
valor do dólar.
Uma simples desaceleração
nesse fluxo -a mera constatação
de que a economia americana estava e continuaria a estar longe da
perfeição- foi tudo o que foi preciso para criar as condições para a
queda atual vivida pelo dólar.
Tradução de Clara Allain
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