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Folhainvest
Bovespa tem saída recorde de recursos estrangeiros
Investidores deixaram a Bolsa mesmo com o grau de investimento dado ao país
Saída líquida de estrangeiros somou R$ 7,4 bilhões, recorde para um mês; no ano, saldo negativo bateu em R$ 6,64 bilhões
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A recente promoção do Brasil a grau de investimento não
foi suficiente para evitar a debandada de capital externo do
mercado acionário local. Com o
cenário internacional pouco favorável, o que se tem visto neste mês é a saída recorde de investimento estrangeiro da Bovespa -fator fundamental para
explicar a queda expressiva
sentida pelas ações brasileiras
nas últimas semanas.
No dia 24, o saldo mensal das
operações dos estrangeiros
apontava saída líquida de R$
7,4 bilhões -cifra recorde para
um mês. Isso significa que nunca antes a diferença entre o volume de ações compradas e
vendidas pelos estrangeiros foi
tão grande. No balanço anual,
que está com saldo negativo de
R$ 6,64 bilhões, a situação é a
mesma, sendo este, até o momento, o pior ano do real.
Esse movimento ajuda a explicar por que a Bolsa de Valores de São Paulo está com queda acumulada de 11,39% em junho, até a última sexta-feira,
muito próxima de ter o seu pior
mês desde setembro de 2002,
quando caiu 16,95%.
Porém, naquele período, as
incertezas em relação ao futuro
do país, desencadeadas pelo
processo eleitoral que elegeu o
presidente Lula, deixaram os
investidores mais avessos
quando o assunto era aplicar
em ativos brasileiros.
Agora, o cenário é bem distinto, com o Brasil promovido a
grau de investimento por duas
das maiores agências de classificação de risco do mundo. Em
outras palavras, o Brasil nunca
foi, aos olhos desses avaliadores internacionais, tão seguro
para se investir.
Como o capital externo é responsável por cerca de 35% de
toda a movimentação da Bovespa, o fato de essa categoria
de investidor estar vendendo
ações de forma expressiva não
tem como passar despercebido.
"Há um cenário global complicado desde meados do ano
passado, quando começou a
crise do "subprime", que depois
se espalhou. Nunca confiei na
hipótese de o Brasil ter conseguido se descolar do cenário externo. E o que vemos agora é
que a contaminação era questão de tempo", afirma o economista Luis Fernando Lopes, do
Pátria Investimentos.
"Com o aumento da aversão,
os estrangeiros buscam zerar
suas posições aqui para mandar
dinheiro para fora. O mês de junho tem sido particularmente
ruim. Não é um padrão, mas o
ambiente é difícil, com muito
mais risco", diz o economista.
Lá fora, as economias têm sido assombradas por dois fatores: o risco de inflação e as expectativas de crescimento moderado. Desde que a crise do
"subprime" (crédito habitacional americano de alto risco)
passou a abalar os resultados e
as perspectivas dos grandes
bancos, no ano passado, o clima
no mercado internacional vem
piorando a cada mês.
A Bovespa vinha demonstrando força para ser menos
contaminada pela crise internacional. A perspectiva de que
o país poderia receber o grau de
investimento -concedido primeiramente pela Standard &
Poor's em 30 de abril- vinha
favorecendo a Bolsa paulista.
Tanto que, em 20 de maio, ela
atingiu a maior pontuação de
sua história, ao encerrar a
73.516 pontos. Mas, com a persistência na piora do cenário
internacional, perdeu o fôlego.
"O cenário internacional só
tem piorado e o "investment
grade" não foi suficiente para
manter a Bovespa em alta enquanto o mundo declinava. Um
ajuste no mercado local era inevitável. Como as perdas ainda
são grandes lá fora, vemos investidores se desfazendo de papéis aqui para fazer caixa e cobrir buracos", afirma José
Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.
Futuro incerto
Se os Estados Unidos voltarem a subir sua taxa básica de
juros, que está em 2% ao ano, a
saída de capital do mercado
acionário doméstico pode se
aprofundar. Isso porque, se os
títulos do Tesouro dos Estados
Unidos, considerados os mais
seguros do mundo, passarem a
render juros maiores, cresce a
possibilidade de grandes investidores migrarem de aplicações
mais arriscadas (como é o caso
das ações) para eles. A concretização de um cenário desse poderia ser ainda mais punitivo à
Bolsa local.
Para os estrangeiros, a Bovespa ainda tem gordura para
queimar. É que em dólares a
Bolsa ainda registra ganhos de
10,93% acumulados em 2008.
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