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Ricos culpam emergentes por inflação
Na reunião de bancos centrais, países industrializados acusam nações em desenvolvimento de elevar preço dos alimentos
Solução seria elevar juros para conter a demanda; emergentes reagem dizendo que população paga por subsistência
Susana Vera/Reuters
| Protesto em Madri, local do Congresso Mundial do Petróleo |
DA REPORTAGEM LOCAL
Os bancos centrais dos EUA e
da Europa aumentaram a pressão contra as autoridades monetárias de países emergentes
para que tomem medidas para
conter a escalada da inflação
mundial. O assunto foi o mais
debatido ontem pelos cerca de
cem presidentes de bancos
centrais que participam da reunião anual do BIS (Banco de
Compensações Financeiras), o
BC dos BCs, na Basiléia, Suíça.
Pelo tom dos debates, o tema
motivou uma queda-de-braço
entre países desenvolvidos e
emergentes. Os países industrializados alegam que sua
campanha para conter os preços está sendo dinamitada pelos emergentes, que vêm apresentando ritmo de crescimento
de dois dígitos, algo que está jogando para cima o preço das
commodities, como petróleo,
alimentos e energia.
"É preciso haver ações para
conter a inflação, controlando a
demanda agregada nesses países", disse Donald Kohn, vice-presidente do Fed [BC dos
EUA]. "Isso contribuiria para a
estabilização dos preços."
Economistas do Morgan Stanley afirmam que pelo menos
um quarto dos países apresenta
crescimento econômico de dois
dígitos e quase todos são nações em desenvolvimento. Os
preços no Vietnã, por exemplo,
subiram 26,8% em junho, o
maior aumento desde 1992.
Para conter o crescimento, a
receita é elevar as taxas de juros. A medida já foi adotada por
Brasil, Romênia, Rússia, Egito,
México, Chile, Taiwan e Filipinas em junho.
Com a alta dos juros, os financiamentos e o crédito em
geral tendem a ficar mais caros
e o consumo pode sofrer uma
desaceleração. Os juros maiores secam os investimentos e
fazem as pessoas pensarem
duas vezes antes de ir às compras. A retração nos gastos ajuda os preços a recuarem.
Questão social
Do outro lado da discussão
estão os países emergentes. Para eles, o controle da inflação
deixou de ser apenas um problema resolvido pela política
monetária, por meio de aumento de juros, e virou também
uma questão social. Isso porque, nos países em desenvolvimento, a maior parte das pessoas gasta o salário com a própria subsistência, pagando por
alimentos e energia.
"Precisamos conciliar as políticas monetárias com as considerações sociais", diz Daouda
Bangoura, diretor do Banco
Central da Guiné. "Em muitos
países vemos tensões."
A alta dos alimentos vem
provocando conflitos em países
na África, na Ásia e na América
Latina. Na Tailândia, maior exportador mundial de arroz, a
venda do produto nos supermercados está sendo racionada. Nos últimos meses, protestos pelo difícil acesso aos alimentos foram registrados em
El Salvador, Indonésia, Senegal
e diversos outros países.
Também os bancos centrais
de países desenvolvidos planejam elevar os juros para tentar
conter a pressão inflacionária.
O Banco Central Europeu indicou uma alta de 4% para 4,25%
dos juros na próxima reunião,
marcada para quinta-feira. O
Fed já pôs fim à série de sete
cortes sucessivos nos juros e sinaliza uma nova alta com o
banco central inglês.
Com agências internacionais
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