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Amorim nega erro e busca acordo com UE e EUA
Chanceler diz que todos apostaram em Doha e que quer ver OMC "de longe'
"Muita energia foi despendida aqui", diz ministro, que vê agora o
G20 com um perfil mais político do que econômico
DE GENEBRA
O chanceler Celso Amorim já
está pronto para rebater as críticas de que o Brasil cometeu
um erro estratégico ao apostar
todas as suas fichas na Rodada
Doha, em vez de buscar acordos
bilaterais. Mas admite que a
tendência, agora que as negociações estão congeladas por
tempo indeterminado, é que o
Brasil volte a retomar os contatos para firmar parcerias que
haviam sido engavetadas, entre
elas a do Mercosul com a União
Européia e até com os EUA.
"Não foi só o Brasil que jogou
todas as fichas na rodada, todos
os países o fizeram", afirmou o
chanceler, lembrando que o
mandato da Comissão do Comércio da UE prevê que um
acordo em Doha deve preceder
acordos bilaterais. "Estávamos
sempre com a sensação de que
no próximo ano [Doha] terminaria. Acho que agora ninguém
mais tem essa ilusão."
O chanceler também se defendeu das críticas de que o
Brasil teria abandonado aliados
tradicionais do G20 (grupo de
países emergentes), como Índia e Argentina, ao aceitar o
acordo proposto nesta semana
para romper o impasse. Ele disse que Doha não morreu e que o
G20 continuará exercendo
uma função estratégica importante para o Brasil, mas reconheceu que a aliança talvez ganhe um perfil mais político que
econômico. Ele disse que telefonou para o presidente Lula
logo que o fim das negociações
foi decretado e ouviu palavras
de incentivo. "Celso, valeu a pena o esforço", disse o presidente, segundo o chanceler.
O ministro disse que o Itamaraty privilegiou a OMC porque negociações bilaterais têm
alcance limitado e são ineficazes para corrigir distorções como os subsídios agrícolas.
"Nossa prioridade era a
OMC, porque só aqui poderíamos tratar de subsídios. Agora
teremos que nos concentrar
em ações que dêem resultados.
Não posso ficar preso aqui por
mais quatro anos", disse.
O chanceler confirmou que
as discussões para um acordo
comercial entre Mercosul e
União Européia, suspensas em
2006, devem recomeçar. "Eu
sempre disse que o processo
com a UE recomeçaria", disse o
ministro, prevendo negociações difíceis que não poderão
ser retomadas do ponto em que
foram suspensas. "Haverá outras prioridades", disse.
Amorim considera inclusive
a possibilidade de retomar o
processo de aproximação entre
o Mercosul e os EUA para a
criação de um acordo de livre
comércio para as Américas (Alca), que foi abandonado. "Não
excluo essa possibilidade", disse o chanceler, prevendo que
uma nova tentativa de acordo
com os EUA terá que partir de
bases diferentes. "Não será fácil, mas, se houver uma tentativa realista, por que não?"
O caminho para a reaproximação com os europeus também não deve ser simples. O
próprio comissário europeu de
Comércio, Peter Mandelson,
reconhece que os mesmos obstáculos de Doha surgirão novamente na discussão de um
acordo comercial com o Mercosul. Entre eles, a dificuldade
em reduzir o protecionismo
agrícola europeu e a resistência
de setores industriais do Mercosul, sobretudo na Argentina.
"Um acordo com o Mercosul
definitivamente está em nossa
pauta de comércio", disse à Folha o porta-voz de Mandelson,
Peter Power. "Mas primeiro
precisamos saber em que bases
ficará a Rodada Doha".
Amorim discorda que a OMC
sofrerá um esvaziamento, mas
admite que passará a ter outras
prioridades. "Foi despendida
muita energia aqui", disse o
chanceler, enquanto comia um
sanduíche. Indagado como passa a ver o futuro da OMC, foi
irônico. "De longe."
(MN)
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