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Para analistas, país agiu certo ao priorizar OMC
MARCELA CAMPOS
DA REDAÇÃO
Apesar do novo fracasso em
liberalizar o comércio mundial,
a maioria dos especialistas em
política externa avalia como
"correta" a prioridade dada pelo Brasil ao foro comercial multilateral, relegando a um segundo plano as grandes negociações bilaterais. Alguns analistas argumentam que tal estratégia, na verdade, foi adotada
por falta de opção. O acordo de
livre comércio Brasil-União
Européia, por exemplo, esbarrou no mesmo impasse que hoje emperra a Rodada Doha: a
negativa dos europeus em aumentar o acesso ao mercado
agrícola enquanto não houvesse acordo na OMC.
Na avaliação do ex-embaixador do Brasil nos EUA Rubens
Ricupero, a estratégia do Itamaraty de concentrar os esforços na Rodada Doha não prejudicou o desempenho comercial
do Brasil. "Em termos práticos,
não saímos perdendo coisa alguma porque, nas áreas em que
temos mais vantagens comparativas, os acordos bilaterais
[com EUA e UE] não nos concederiam nada" -suco de laranja, álcool, açúcar, tabaco,
carnes. Segundo ele, na área em
que o país tem competitividade
-commodities agrícolas-, a
grande demanda não vem dos
EUA, mas dos asiáticos, economias que crescem mais rapidamente. E, no campo dos manufaturados em que há capacidade exportadora aos EUA, caso
da Embraer, já não há tarifa,
afirma. "Não acho que haja um
prejuízo real [por privilegiar o
multilateralismo]. Temos negociado, com o Grupo Andino,
por exemplo, mas no âmbito do
Mercosul. Sendo uma união
aduaneira com barreira tarifária comum a terceiros, o bloco
não permite que cada membro
possa negociar livremente tratados bilaterais", afirma o ex-ministro da Fazenda.
Na avaliação do economista
Alessandro Teixeira, presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportações e Investimentos), os aumentos crescentes nas exportações demonstram que a estratégia de optar
pelo multilateralismo foi bem-sucedida. "Após essa mudança,
o Brasil deixou de ser "mais um"
para assumir a liderança do
bloco latino-americano, atingindo outro patamar." Hoje,
avalia, toda negociação multilateral tem que passar pelo país.
Ricupero afirma que, nas negociações regionais com parceiros mais poderosos, a assimetria de poder é sentida de
forma muito mais poderosa.
Ele cita o exemplo dos EUA,
que nunca conseguiram acordos de propriedade industrial
ou de investimentos no âmbito
multilateral, mas os conquistaram no âmbito do Nafta e dos
tratados bilaterais. O embaixador, que diz ter sido sempre
contrário a tratados bilaterais,
explica que, quando há concessões numa negociação multilateral, o sacrifício tem como
contrapartida o acesso ao mercado de 152 países. Já em uma
negociação bilateral, o sacrifício é o mesmo e o acesso é menor, porque se negocia com
com poucos parceiros.
André Nassar, presidente do
Icone (Instituto de Estudos do
Comércio e Negociações Internacionais), relativiza a importância de contrapor as estratégias bi e multilateral. "Com ou
sem acordos bilaterais, o Brasil
jamais deixaria de fazer negociações multilaterais porque só
na OMC se lida com temas sistêmicos [como subsídios e disciplinas referentes a salvaguardas e antidumping]."
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