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Crédito continua em alta mesmo com juros maiores
Volume de crédito cresce 14% no 1º semestre e já corresponde a 36% do PIB
Expansão é maior no financiamento a empresas, de 17,9%, contra 9,7%
para as pessoas físicas; inadimplência segue estável
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os juros bancários tiveram
seu segundo mês seguido de alta, mas esse encarecimento não
foi suficiente para frear a procura por empréstimos. Dados
do Banco Central mostram que
a concessão de financiamentos
a pessoas físicas dá sinais de desaceleração, mas que as empresas estão se endividando cada
vez mais, liderando a expansão
do crédito.
Segundo o BC, os juros médios praticados pelas instituições financeiras passaram de
37,6% ao ano para 38% entre
maio e junho. A alta se concentrou nas operações com pessoas físicas, cujas taxas subiram
de 47,4% ao ano para 49,1%.
O movimento se explica, em
parte, pela atuação do próprio
BC, que tem elevado seguidamente a taxa Selic, que remunera as operações de curto prazo fechadas pelos bancos no
mercado financeiro. Isso acaba
encarecendo o custo de captação das instituições financeiras, que repassam esse aumento para seus clientes.
O chefe do Departamento
Econômico do BC, Altamir Lopes, diz que a alta dos juros
bancários deve continuar no
segundo semestre, mas não deve impedir que o crédito siga
em alta. "Ainda não observamos nenhuma desaceleração
nas vendas do varejo, e as empresas precisam de capital de
giro para alavancar as vendas",
diz Lopes, citando os motivos
que devem continuar puxando
a procura por empréstimos.
Além disso, o aumento nos
prazos de pagamento também
ajudam a compensar o impacto
da alta dos juros, pois contribui
para reduzir o tamanho das
parcelas de cada empréstimo.
Em junho, o prazo médio dos
financiamentos era de 375 dias,
contra 350 dias em dezembro.
"Acaba prevalecendo aquela
cultura de só ver se a prestação
cabe no bolso", diz Lopes.
No semestre, o volume de
crédito disponível no país cresceu 14%, chegando a R$ 1,067
trilhão no mês passado. O valor
equivale a 36,5% do PIB, e Lopes afirma que até o fim do ano
essa proporção pode superar os
40% previstos pelo BC.
O crescimento foi maior nos
financiamentos a empresas,
que tiveram alta de 17,9% no
período, contra aumento de
9,7% entre pessoas físicas. Esses números não incluem os
chamados créditos direcionados, como os empréstimos habitacionais e do BNDES, controlados pelo governo.
Para Alexandre Jorge Chaia,
professor do Ibmec São Paulo,
o crescimento um pouco mais
fraco nos empréstimos a pessoas físicas já é um reflexo da
recente alta dos juros, mas que
a maior parte do impacto ainda
será sentida nos próximos meses. "Os números ainda são
conseqüência das compras que
foram planejadas no início do
ano. Não é de uma hora para
outra que se interrompe isso."
Segundo Chaia, a expectativa
é que, de agora em diante, o crédito avance num ritmo mais
adequado às condições atuais
da economia. Recentemente, o
governo chegou inclusive a cogitar uma restrição maior à
concessão de empréstimos,
com receio de que um impulso
muito forte do crédito sobre o
consumo pudesse abrir espaço
para pressões sobre a inflação.
A inadimplência, outra fonte
de preocupação, também não
dá sinais de elevação. Segundo
o BC, apenas 4% do saldo de financiamentos bancários registrado no final de junho estavam
com pagamentos atrasados por
mais de 90 dias. "Não acredito
que os números de inadimplência devam piorar. O crédito
deve continuar crescendo de
forma satisfatória", afirma
Emerson Kapaz, consultor do
IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo).
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