|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mudança contábil que tira prejuízo do BC é alvo de críticas
Agora, perdas sofridas com impacto do câmbio são imediatamente repassadas ao Tesouro Nacional e não afetam resultado do banco
"O que preocupa é o BC
ter liberdade para fazer
dívida quando quiser", diz
Carlos Thadeu de Freitas,
ex-diretor da instituição
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A mudança nos critérios usados para contabilizar as perdas
do Banco Central com as operações no mercado de câmbio é
vista com ressalvas por ex-diretores do banco consultados pela Folha. Ontem foram divulgadas as demonstrações financeiras do BC no primeiro semestre -com a mudança, um
prejuízo de R$ 41,6 bilhões virou lucro de R$ 3,2 bilhões.
A mudança ocorreu na maneira como são contabilizados
os resultados obtidos pelo BC
na administração das reservas
internacionais e nas operações
com o chamado "swap" cambial. Ambas as aplicações
acompanham de perto a variação da cotação do dólar. Ou seja, quando o real se valoriza em
relação à moeda dos Estados
Unidos, como tem ocorrido nos
últimos anos, o BC tem perdas.
Pela regra antiga, eventuais
prejuízos apurados pelo BC
eram cobertos pelo Tesouro
Nacional no prazo de até um
ano. Agora, os prejuízos sofridos com o impacto do câmbio
sobre as reservas ou sobre as
operações de "swap" são imediatamente repassados ao Tesouro e, por isso, não afetam o
resultado contábil do BC.
Para Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor da Área Bancária (1985-1986) e da Dívida Pública (1988-1989) do BC, a mudança dá excessiva liberdade à
instituição, já que os prejuízos
são cobertos automaticamente
pelo Tesouro, sem maiores discussões sobre os motivos que
levaram ao resultado negativo.
"O BC ter prejuízo não significa que ele está sendo mal administrado. Mas o que preocupa realmente é ele ter liberdade para fazer dívida quando
quiser, que ninguém mais [no
setor público] tem. O BC está
tendo cada vez mais independência para atuar, mas o controle da sociedade sobre essa
atuação está cada vez menor."
Gustavo Loyola, que foi diretor de Normas (1990-1992) e
presidente (1995-1997) do BC,
diz que a medida tem a vantagem de "ajudar a explicitar que
o custo da política cambial acaba recaindo sobre o Tesouro".
Mesmo não sendo computadas
como prejuízo propriamente
dito, as perdas que a valorização do real causam ao BC continuam sendo publicadas em
seção específica dos balanços.
Loyola ressalta, porém, que o
fato de o Banco Central passar
a contabilizar lucros nos balanços não deve ser entendido como sinal de que a instituição
deva, obrigatoriamente, buscar
resultados positivos com suas
operações. "Política monetária
e política cambial não existem
para dar lucro. O BC não pode
seguir essa linha de raciocínio.
São políticas que têm outros
objetivos."
A mudança, feita no final de
junho por medida provisória, já
vinha sendo discutida no governo e foi patrocinada pelo
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles.
Texto Anterior: Lula encaminha ao Congresso projetos que criam 13,5 mil cargos Próximo Texto: Juro: Gustavo Franco defende atual política monetária Índice
|