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ESPETÁCULO EM XEQUE
Presidente avalia que redução mais significativa da taxa é a forma de dar impulso extra à economia, mas sofre resistência do BC
Sem crescimento, Lula quer juro menor
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva quer uma redução significativa da taxa básica de juros, hoje
em 17,5% ao ano, para que a retomada da economia se aproxime
do prometido "espetáculo do
crescimento". O presidente do BC
(Banco Central), Henrique Meirelles, resiste e alerta que há limites
para essa redução.
Para Lula, uma queda significativa seria a repetição, em dezembro, da redução de 1,5 ponto percentual da última reunião do Copom. Já o BC avalia que a redução
deva ficar por volta de 0,5 ponto
percentual.
Esse é hoje o principal debate no
governo. A Folha apurou que Lula não quer enfraquecer seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho. O presidente acha que tal
iniciativa poderia causar insegurança nos investidores.
No entanto os últimos indicadores econômicos levam o governo a debater formas de incentivar
ainda mais a economia. O presidente considerou decepcionante
o crescimento de 0,4% do PIB
(Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre deste ano.
Daí um debate sigiloso e cauteloso com seus principais ministros: Palocci, José Dirceu (Casa
Civil), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo) e Luiz Dulci (Secretaria Geral).
Nesse debate, há três variáveis:
1) política fiscal - é ponto pacífico na cúpula do governo que o superávit primário de 4,25% do PIB
não será suavizado. O que Lula
imagina é gastar melhor o dinheiro que tem. Por isso, pretende realizar uma reforma ministerial que
faça um rearranjo gerencial do
governo, de modo a torná-lo mais
eficiente;
2) política cambial - os ministros Guido Mantega (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan
(Desenvolvimento), mais o líder
do governo no Senado, Aloizio
Mercadante (PT-SP), dizem que
há sobrevalorização do real em
relação ao dólar, hoje cotado a R$
2,947, e pregam uma política
cambial mais ousada. Desejam
um real mais fraco para elevar a
competitividade das exportações.
Mas o bom desempenho da balança comercial neste ano, que deverá ter um saldo de pelo menos
US$ 22 bilhões, enfraquece os defensores dessa opção "desenvolvimentista", que embutiria ainda
um risco inflacionário. Ou seja,
Lula não vê espaço para ousadia
na política cambial;
3) política monetária - apesar
de rejeitar a idéia de "populismo
monetário" -expressão que costuma empregar em conversas reservadas do governo-, o presidente avalia que, na atual conjuntura, é nos juros que tem espaço
para dar algum reforço extra ao
crescimento econômico. A Folha
apurou que houve influência do
presidente na queda de 1,5 ponto
percentual da Selic em outubro.
Essa influência não é direta. Lula não telefona para o presidente
do Banco Central. Tampouco
Dirceu, Gushiken e Dulci. É Palocci o "canal de transmissão", de
acordo com um auxiliar direto do
presidente.
Cobranças
O ministro da Fazenda expõe a
Meirelles não só idéias sobre o
quadro econômico mas também
cobranças da ala moderada do PT
por maior crescimento e reclamações de industriais paulistas por
juros menores.
Lula acha que Meirelles acolheu
essas observações em novembro e
o fará novamente em dezembro.
Mas expoentes do governo, como
o líder Mercadante, acreditam
que Meirelles tenha demorado
demais para baixar os juros.
Mercadante disse isso em reunião no sábado retrasado, na
Granja do Torto, em Brasília. Essa
reunião deveria ter discutido reforma ministerial, mas Lula priorizou uma avaliação da política
econômica.
No encontro, o presidente elogiou a observação de Meirelles segundo a qual a taxa real de juros
(descontada a inflação) é a mais
baixa em nove anos -pouco
mais de 10% ao ano, levando em
conta a expectativa de inflação para os próximos 12 meses.
Meirelles deu sinais de que o
Banco Central pode estar perto de
definir qual é a taxa de juro real de
equilíbrio, abaixo da qual o país
não cresce sem gerar instabilidade ou inflação. Esse é o ponto crucial do debate econômico atual.
Atingido tal patamar, 2004 seria
um ano de pequenas variações na
política monetária.
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