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Índice define potencial de crescimento do PIB; estudos apontam para faixa de 8% a 10%, mas alguns economistas acreditam em taxa menor
BC pode "descobrir" piso de juro real em 2004
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O BC (Banco Central) poderá
chegar em 2004 ao teste que vai
revelar qual é o piso para a redução da taxa de juros real no Brasil,
um número enigmático que esteve no centro do debate econômico do país nos últimos meses.
Para alguns economistas, como
Alexandre Póvoa, do Banco Modal, o BC já começou a tatear esse
limite na última reunião do Copom, quando cortou os juros em
1,5 ponto percentual, 0,5 a mais
que o esperado pelo mercado.
Outros, como Sérgio Werlang, diretor-executivo do Itaú, acreditam que a resposta de qual é o juro
real de equilíbrio só virá em 2005.
Saber qual é o piso dos juros
reais não é relevante apenas para
os envolvidos no debate econômico. Essa é a taxa abaixo da qual
o país não é capaz de crescer sem
gerar instabilidade e pressões inflacionárias. A maioria dos estudos aponta para uma faixa que vai
de 8% a 10%, um índice altíssimo
para os padrões internacionais,
incluindo os de países latino-americanos, que convivem com
taxas reais de cerca de 5%.
Póvoa, do Modal, e Julio Gomes
de Almeida, diretor-executivo do
Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial),
afirmam que a economia brasileira passou por mudanças estruturais que permitem supor que a taxa real de equilíbrio é inferior
àquela de 8% a 10% tradicionalmente apontada por analistas.
A principal alteração é o ajuste
das contas externas, que permitirá ao país fechar 2003 com superávit em conta corrente pela primeira vez desde 1992. Isso significa uma menor necessidade de financiamento externo, o que daria
mais espaço para o BC testar o piso, levando os juros reais a um patamar inferior a 8%.
"O ajuste do setor externo deu
um "elástico" para que o país possa
descobrir qual é o piso da taxa real
de equilíbrio", diz Almeida. Segundo ele, além de reduzir a necessidade de financiamento externo, esse ajuste elevou a capacidade de importação da economia
brasileira, graças ao saldo comercial recorde de US$ 22 bilhões que
deve ser alcançado em 2003.
A maior capacidade de importação facilita uma das tarefas da
taxa de juro real, que é compatibilizar a oferta e a demanda, para
evitar pressões inflacionárias.
Quanto menor o juro real,
maior a capacidade de crescimento da economia. "A taxa real afeta
muito o investimento e o consumo", afirma Octavio de Barros,
economista-chefe do Bradesco.
Com base em modelos estatísticos, Barros estabeleceu relações
entre taxas de juros hipotéticas e o
índice de crescimento do PIB que
corresponderia a cada uma delas
em 2004. Um juro real de 10,9%,
por exemplo, permitiria uma expansão da economia de 3,3%. Já
uma taxa de 5,8% levaria a crescimento de 4,8%.
O economista acredita que o cenário provável -e possível- para a realidade brasileira seja uma
taxa real de 8,8% com crescimento de 3,9% do PIB. "Não convém
ao país crescer acima de 4% em
2004 porque pode haver pressões
inflacionárias ou desequilíbrio no
balanço de pagamentos", diz.
A taxa de juro real está hoje em
11%, se for calculada com base na
Selic, descontada a expectativa de
inflação para os próximos 12 meses. Mas alguns analistas preferem outro índice, que se baseia na
taxa de juro futuro de um ano,
descontada a expectativa de inflação. Por essa fórmula, o juro real
já estaria hoje em 9,7%, um patamar alto para os padrões internacionais, mas relativamente baixo
se for considerado o histórico recente do Brasil.
O economista-chefe do Bradesco sustenta que não é possível
predeterminar uma taxa. Para ele,
o piso do juro real é "móvel" e definido pela situação fiscal e o risco
Brasil. Em sua opinião, o enigma
de qual é o piso dos juros reais poderá ser decifrado ao longo do
primeiro semestre de 2004.
Jorge Simino, diretor do Unibanco Asset Management, afirma
que nem mesmo o BC sabe qual é
a taxa real de equilíbrio e terá de
descobrir o índice em um cauteloso exercício de tentativa e erro.
O economista acredita que tenha havido uma precipitação no
debate sobre os juros, provocada
pelo decepcionante resultado do
PIB do terceiro trimestre -expansão de 0,4% em relação ao trimestre anterior, quando se esperava pelo menos 1,5%. Simino
ressalta que o corte da taxa de juros demora cerca de seis meses
para ter efeito sobre a atividade
econômica, o que deve ocorrer no
segundo trimestre de 2004.
Octavio de Barros também afirma que o processo de "tatear" o
piso da taxa real é delicado e deve
ser conduzido com cautela. "A
pior coisa que poderia ocorrer à
economia brasileira seria o BC ser
obrigado a aumentar os juros."
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