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CONSUMO
Diferença entre contas não-pagas e liquidadas diminui para 810 mil no ano
Inadimplência no país cai ao menor nível desde 1994
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
O país deve atingir em 2003 o
melhor resultado em inadimplência líquida desde 1994. O saldo entre o número de pessoas que entrou na lista de insolventes e o que
saiu será o mais baixo desde que o
Plano Real foi implementado, há
quase dez anos. O país ainda deve
ter o menor saldo de cheques sem
fundos (diferença entre os que entram e os pagos) desde 1994.
Serão mais de 30 milhões de folhas de cheques com o carimbo
"devolvido" compensados durante o ano, pois os clientes dos
bancos têm conseguido pagar o
débito. Ao mesmo tempo, o número de pessoas que entraram
nessa lista de inadimplentes com
cheques permaneceu estável em
relação à média dos últimos anos.
São dados que raramente vêm à
tona porque a inadimplência líquida (o saldo entre novos inadimplentes e ex-inadimplentes) é
um indicador nem sempre calculado pelas entidades e associações
que pesquisam o assunto. A Folha solicitou a elaboração das
contas para obter o resultado.
Explica-se: neste ano foram
cancelados quase 2,3 milhões de
contas em atraso de pessoas físicas, e cerca de 3,1 milhões entraram no banco de dados da ACSP
(Associação Comercial de São
Paulo) por meio do Sistema Central de Proteção ao Crédito. A diferença, de 810 mil registros de janeiro a outubro, é a mais baixa
desde 1994, quando o volume
atingiu 510,2 mil.
Também é quase a metade do
apurado em 1998 (1,5 milhão), o
pior ano da história do comércio
no país, quando o crédito barato
tomou conta do mercado, as dívidas cresceram e o calote disparou.
"Estamos com melhores números do que no ano passado como
reflexo do cenário de forte retração econômica. Quando a crise
aperta, dívidas novas não são feitas e corre-se para pagar as contas
já assumidas", diz Emílio Alfieri,
economista da ACSP.
No caso do cheque sem fundos,
a situação é a mesma. As entidades publicam basicamente o número dos cheques emitidos e dos
que foram devolvidos pela segunda vez por falta de recursos em
conta. E esse indicador bate recordes há tempos. Mas nem sempre é
feita a conta da diferença entre o
volume de cheques incluídos nesse montante e o que foi excluído
porque as pessoas pagaram a dívida. Esse saldo caiu de forma considerável.
Segundo o Banco Central, de janeiro a outubro foram registrados
31,7 mil cheques sem fundos,
mas, no mesmo período, foram
excluídos da lista 25,8 mil. O saldo
(5,9 mil registros) é o mais baixo
desde o ano de 1994.
O recorde negativo ainda pertence a 1999, quando o país viveu
a sua mais forte crise cambial e
houve queda (a primeira nos anos
FHC) no rendimento médio real
de 5% em relação a 1998.
"Neste ano, segundo os bancos,
o crédito disponível para gastos
cresceu 11,5% ante o ano anterior,
até outubro. Mas a taxa de inadimplência [taxa de atraso em
cartão de crédito, financiamento
em bancos, CDC etc.] cresceu
pouco mais de 5% no período",
diz Carlos de Almeida, economista da Serasa (Centralização de
Serviços Bancários).
"Logo, o crédito ainda cresce
mais que a inadimplência, o que é
um indicador saudável", afirma.
Endividamento per capita
Por meio de uma conta simples
percebe-se que, na prática, o endividamento por pessoa economicamente ativa até cresceu neste
ano no país. Endividamento alto
eleva a taxa de inadimplência, e isso teria ocorrido se o consumidor
não tivesse cortado gastos para
não estourar o orçamento.
Dados do BC mostram que a
média de recursos emprestados
para operações de crédito do sistema financeiro ficou em R$ 85,7
bilhões por mês, até setembro.
Partindo do pressuposto de que
a PEA (População Economicamente Ativa) fique em torno de 86
milhões neste ano, segundo analistas de emprego, então cada trabalhador no país deve R$ 996 em
média hoje. Nesse caso estão incluídos cheque especial e linhas
para empréstimos, entre outros.
No ano passado, quando R$
81,6 bilhões por mês, em média,
ficaram disponíveis para crédito,
a dívida por cabeça era menor,
cerca de R$ 949.
Naturalmente, quanto menor o
montante de recursos disponíveis
pelos bancos para gastos, a tendência é que as pessoas se endividem menos, pois sem crédito não
há consumo se a renda só cai. Em
outubro, o rendimento médio do
trabalhador era de R$ 831 -ante
R$ 979, 86 (descontada a inflação)
ano antes, segundo o IBGE.
Nos cartórios de São Paulo, as
dívidas de pessoas físicas e jurídicas (empresas) também caíram.
O último levantamento mostra
que, de janeiro a outubro, a população na capital paulista tinha registros de dívidas sendo protestadas no valor de R$ 433,5 milhões.
O volume é 26,4% menor do que
no mesmo período de 2002. No
caso das empresas, o volume somava R$ 342,4 milhões até outubro -caiu 44% sobre 2002.
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