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Prazos mais longos e juros menores tornam crédito mais acessível, o que pode elevar chance de calote no comércio
Redes se preparam contra os riscos de inadimplência
DA REPORTAGEM LOCAL
O cenário é ideal: com a redução da inadimplência, o nome
limpo na praça e crédito barato, o
consumidor pensa que pode se
aventurar nas compras de fim de
ano sem temer riscos de calote.
Além disso, ainda há o pagamento dos reajustes salariais neste fim de ano, que, em alguns casos, atingiram 18%. E os juros menores nas lojas.
Existe um conjunto de fatores
propícios para os gastos, o que leva os analistas a fazer um alerta.
"O varejo sabe do risco que corre
se cair na tentação de aproveitar
esse momento, reduzir a guarda e
liberar crédito sem critério", afirma Fabio Pina, economista da Fecomercio SP.
Prazos já foram alongados, e taxas de juros, ligeiramente reduzidas. Em agosto, segundo pesquisa
da Anefac, a associação dos executivos de finanças, o prazo médio para venda a prazo no comércio estava em 9 meses. Passou, em
outubro, para 11 meses.
Já as taxas de juros passaram em
média de 6,20% ao mês para as
compras a prazo para em torno
de 6%, de acordo com levantamento da associação."Não vamos
mudar critérios para aumentar a
venda de forma indiscriminada",
diz Michael Klein, diretor comercial da Casas Bahia.
A rede inaugura hoje à tarde
uma megaloja de 25 mil metros
quadrados no Anhembi, zona
norte de São Paulo. Foram investidos R$ 3 milhões na abertura do
ponto. Como a expectativa é um
faturamento diário de R$ 1 milhão, em três dias o investimento
deverá estar pago.
Anos difíceis
Em 1994, com a criação do Plano Real e a estabilidade de preços,
a situação do consumo mudou.
Linhas de crédito foram criadas,
prazos de pagamento, alongados
(para até 24 vezes, no caso de eletrodomésticos), e o crediário se
tornou uma das principais formas
de pagamento. A expansão na
renda, no entanto, se desacelerou.
Em 1997 e 1998, a inadimplência
ganhou força. O volume de registros recebidos de pessoas inadimplentes em São Paulo mais que
dobrou de 1996 para 1998, passando de 1,9 milhão para 4,7 milhões,
segundo a ACSP (Associação Comercial de São Paulo).
Redes como a Lojas Centro quebraram porque não tinham capital de giro para suportar o calote
generalizado.
Segundo Klein, no entanto,
aquele cenário vivido pelo varejo
é "coisa do passado". E é pequena
a possibilidade de um aumento
na inadimplência em 2004 devido
à elevação no volume das linhas
de crédito -sem que ocorra um
aumento na renda da população.
A Casas Bahia opera com uma
taxa de inadimplência média de
8%. O Ponto Frio estava, em setembro, com uma taxa em 8,2%,
segundo o balanço da empresa.
Fabio Pina, da Fecomercio SP,
concorda com Klein. "Nós acreditamos num aumento de renda
real de 3% a 4% em 2004. Mesmo
que isso não ocorra, acho pouco
provável que toda a expansão na
venda no próximo ano se dê por
essas linhas de crédito, que têm
volume disponível ao consumidor limitado", afirma ele.
Campanhas
O último levantamento do Provar (Programa de Administração
do Varejo), da USP (Universidade
de São Paulo), no entanto, mostra
que 55,4% dos paulistanos afirmam que não pretendem comprar nada de outubro a dezembro, o que inclui, portanto, o Natal. Em igual período do ano passado, 27,5% dos entrevistados diziam o mesmo. Foram ouvidas
400 pessoas em São Paulo.
O "nada" se refere a bens duráveis e semiduráveis (calçados, eletroeletrônicos, roupas, automóveis, por exemplo), mas não a alimentos, itens de higiene e remédios (bens essenciais).
Para animar o consumidor, as
redes de eletrônicos se armam
com estratégias de marketing na
tentativa de desovar as mercadorias em estoque no Natal.
A Pernambucanas está com
campanha anunciando pagamento em dez vezes. Já a Casas Bahia
renovou o contrato com o seu garoto-propagada, o ator das campanhas "Quer pagar quanto?",
por mais seis meses.
(AM)
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