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Convencer países do Mercosul é obstáculo para acordos bilaterais
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Com o fim da Rodada Doha
na OMC (Organização Mundial
do Comércio), o Brasil vai se
dedicar a desenterrar a proposta de acordo 4 + 1 -dos quatro
países do Mercosul com os Estados Unidos, para maior liberalização comercial bilateral do
bloco com os EUA.
Analistas de fora e de dentro
do próprio governo, porém, dizem que o momento político é
muito adverso, principalmente
por duas circunstâncias: as
eleições de novembro nos EUA
e as idiossincrasias internas
nos membros do Mercosul
-Brasil, Paraguai, Uruguai e
Argentina, além da Venezuela.
Há, também, um novo obstáculo: a Venezuela de Hugo Chávez está em processo de adesão
ao bloco, o que aumenta as resistências norte-americanas e
as negociações intra-bloco.
Para o diretor do Departamento de Mercosul do Itamaraty, Bruno Bath, muitas tratativas do Mercosul com outros
parceiros foram apenas interrompidas durante a Rodada
Doha, o que significa que novas
negociações não vão começar
do zero. "É prematuro dizer
que o Mercosul não vai fechar
nenhum acordo. Já temos
grande experiência em coordenação. Se formos retomar com
a UE, já temos meio caminho
andado, já existe um patrimônio. Não digo que seja fácil, mas
não é nada que tenha que começar do zero", disse.
Para o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, o
Brasil vem fazendo concessões
ao Paraguai e Uruguai, menores economias do bloco. Ele cita
o acordo de livre-comércio entre Mercosul e Israel. "Brasil e
Argentina tinham postura mais
aberta; Paraguai e Uruguai,
mais defensiva. Conseguimos o
acordo discutindo prazos de
adaptação. Se houver imaginação, construir consensos é possível."
O embaixador do Brasil em
Montevidéu, José Felício, diz
que a idéia de retomar negociações 4 + 1 "é natural" e confia
em que o Uruguai se empenhe,
pois tem interesse direto no
mercado dos EUA de carne e de
lã. Segundo Barral, o Mercosul
precisa apenas discutir métodos de negociação: "Temos que
estudar mecanismos institucionais. Precisamos de continuidade para construir consensos com mais antecipação".
Para o ex-embaixador Rubens Barbosa, "é muito difícil
avançar num acordo com o
Mercosul". "É preciso uma flexibilização das regras para permitir que os países negociem
isoladamente e depois há um
período para a convergência
das tarifas, mas para embarcar
nesta proposta tem que haver
mudanças na política brasileira
de comércio exterior", disse.
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