São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2008

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Convencer países do Mercosul é obstáculo para acordos bilaterais

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Com o fim da Rodada Doha na OMC (Organização Mundial do Comércio), o Brasil vai se dedicar a desenterrar a proposta de acordo 4 + 1 -dos quatro países do Mercosul com os Estados Unidos, para maior liberalização comercial bilateral do bloco com os EUA.
Analistas de fora e de dentro do próprio governo, porém, dizem que o momento político é muito adverso, principalmente por duas circunstâncias: as eleições de novembro nos EUA e as idiossincrasias internas nos membros do Mercosul -Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, além da Venezuela.
Há, também, um novo obstáculo: a Venezuela de Hugo Chávez está em processo de adesão ao bloco, o que aumenta as resistências norte-americanas e as negociações intra-bloco.
Para o diretor do Departamento de Mercosul do Itamaraty, Bruno Bath, muitas tratativas do Mercosul com outros parceiros foram apenas interrompidas durante a Rodada Doha, o que significa que novas negociações não vão começar do zero. "É prematuro dizer que o Mercosul não vai fechar nenhum acordo. Já temos grande experiência em coordenação. Se formos retomar com a UE, já temos meio caminho andado, já existe um patrimônio. Não digo que seja fácil, mas não é nada que tenha que começar do zero", disse.
Para o secretário de Comércio Exterior, Welber Barral, o Brasil vem fazendo concessões ao Paraguai e Uruguai, menores economias do bloco. Ele cita o acordo de livre-comércio entre Mercosul e Israel. "Brasil e Argentina tinham postura mais aberta; Paraguai e Uruguai, mais defensiva. Conseguimos o acordo discutindo prazos de adaptação. Se houver imaginação, construir consensos é possível."
O embaixador do Brasil em Montevidéu, José Felício, diz que a idéia de retomar negociações 4 + 1 "é natural" e confia em que o Uruguai se empenhe, pois tem interesse direto no mercado dos EUA de carne e de lã. Segundo Barral, o Mercosul precisa apenas discutir métodos de negociação: "Temos que estudar mecanismos institucionais. Precisamos de continuidade para construir consensos com mais antecipação".
Para o ex-embaixador Rubens Barbosa, "é muito difícil avançar num acordo com o Mercosul". "É preciso uma flexibilização das regras para permitir que os países negociem isoladamente e depois há um período para a convergência das tarifas, mas para embarcar nesta proposta tem que haver mudanças na política brasileira de comércio exterior", disse.


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