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Nas transações,
palavra vale mais
do que contratos
DA ENVIADA A COROMANDEL
A proibição da exportação
não foi sentida no garimpo
dos diamantes mais raros do
Brasil: o de Coromandel
(MG), onde 2.000 homens e
50 sistemas mecanizados
perfuram o solo e lavam toneladas de cascalho à procura das pedras preciosas. A
região é conhecida pelos diamantes grandes e coloridos.
Segundo o prefeito Petrônio Jacinto da Silva (sem
partido), o garimpo injeta
R$ 1,5 milhão por mês na
economia da cidade, o dobro do orçamento local.
Mais da metade dos 29 mil
habitantes está direta ou indiretamente ligada a ele.
O garimpeiro manual trabalha sozinho, mas por trás
dele há uma rede de pessoas
envolvidas. O fazendeiro
tem comissão de 15% na
venda, por permitir a perfuração de suas terras.
Cada garimpeiro possui
um sócio capitalista, o "fornecedor", que lhe dá equipamento para o trabalho e remuneração de um salário
mínimo por mês. É um investimento de risco, pois ele
pode passar meses sem
achar pedra de valor. Na
venda do diamante, retira-se
a comissão do fazendeiro e o
resto é dividido entre o "fornecedor" e o garimpeiro.
Há fornecedores de grande
porte (em geral, fazendeiros
e comerciantes), que mantêm vários garimpeiros ao
mesmo tempo, e há os pequenos, que se associam para manter um trabalhador.
Como os garimpeiros não
têm licença da União para
explorar o subsolo, os diamantes são comercializados
sem nota fiscal, sem recolhimento de tributos, nem
qualquer contrato escrito.
Não existe informação sobre
quantidade ou valor das pedras extraídas na cidade.
As transações são baseadas em acordos verbais e na
relação de confiança entre
comprador e vendedor, contratante e contratado. Os comerciantes -conhecidos na
região como "capangueiros"
- informam que os diamantes vão para o exterior,
sem documentação.
O mercado de diamantes,
apesar de informal, funciona
com regras rígidas. Quem
descumprir as regras, estará
fora. A primeira pessoa a
quem o garimpeiro deve
mostrar o diamante é o dono
da fazenda. Em segundo lugar, vem o fornecedor.
A venda da pedra requer
cuidado. Se o garimpeiro
mostrá-la a dois capangueiros e a proposta do segundo
for menor do que a do primeiro, ele terá que aceitar a
menor oferta. Quando o negócio é fechado, o diamante
é colocado dentro de um envelope, lacrado com fita crepe. O comprador assina várias vezes sobre a fita. Se o lacre for rompido, ficará provado que a pedra foi mostrada a outro comerciante e o
negócio será desfeito.
Nilton Borges, comerciante de diamantes, diz que os
capangueiros da região
compram as pedras de menor valor. Em alguns casos,
eles se associam para adquirir um diamante mais caro.
Quando surgem as pedras
de milhões de dólares, os capangueiros locais informam
a descoberta aos compradores internacionais. Segundo
os garimpeiros, as pedras
são retiradas do país pelos
estrangeiros. O pagamento é
feito por meio de doleiros.
Em 2002, foram descobertos um diamante vermelho
de 24 quilates e um marrom
de 127 quilates na cidade. Especula-se que a pedra vermelha teria sido vendida em
Israel por US$ 5 milhões.
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