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MORATÓRIA PLATINA
Economistas calculam necessidade de expansão de 3% ao ano por dez anos para honrar vencimentos
Argentina só paga dívida se crescer muito
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
A Argentina precisa crescer a
uma taxa média de 3% ao ano nos
próximos dez anos para ter condições de honrar os vencimentos
de sua dívida, incluindo a que está
em moratória. A estimativa foi
calculada para a Folha por economistas e analistas financeiros.
O país também teria de se comprometer com um superávit primário (receitas menos despesas,
excluindo o pagamento de juros)
de, no mínimo, 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto). Ou seja, uma
taxa superior a que o país está disposto a aceitar como meta no novo acordo que negocia com o FMI
(Fundo Monetário Internacional). O governo não pretende economizar mais do que 3% do PIB.
O FMI exige um superávit entre
3,5% e 4%.
A título de comparação, o Brasil
se comprometeu a realizar economia de 4,25% do PIB neste ano
para pagar juros e, assim, amortizar sua dívida.
Até o dia 31 de março, último
dado que o Ministério da Economia divulgou, a dívida externa argentina era de US$ 145,5 bilhões,
dos quais US$ 76 bilhões estão em
moratória desde dezembro de
2001. Até o final deste ano, a estimativa do ministério é que esse
valor supere os US$ 180 bilhões,
resultado do acúmulo de juros sobre a dívida que não está sendo
paga há quase dois anos.
"O crescimento é uma variável
central, mas não é a única. O esforço fiscal também pesa", afirma
Guillermo Mondino, economista
da consultoria Macro Vision.
Segundo Mondino, o ideal seria
o governo concordar com um
maior aperto fiscal nos anos de
crescimento para ter uma "reserva" de recursos nos anos de expansão mais "tímida".
O governo argentino estima
que, neste ano, a economia irá
cresce entre 5% e 5,5%. Para o
FMI, a expansão será de 4,8% em
2003 e de 4% em 2004, menos que
os 4,5% previstos anteriormente.
"É bom lembrar que a forte expansão deste ano acontece porque a base de comparação é muito ruim. Dificilmente o país terá
condições de manter esse ritmo
nos próximos anos", afirma o
economista.
Entre 1998 e 2002, o PIB argentino sofreu uma retração de quase
20%.
Reestruturação
A intenção do governo é lançar
até o final de setembro a proposta
de reestruturação da dívida que
está em moratória. Essa data, no
entanto, não é considerada "viável" para a maioria dos analistas.
"É uma reestruturação muito
complexa e o governo não terá
tempo suficiente. Além disso, antes de analisar qualquer oferta, os
credores querem ver como será o
acordo que se negocia com o
FMI", afirma Ricardo Amorim,
analista para América Latina da
consultoria Idea Global.
Pelo menos 152 tipos diferentes
de bônus estão em moratória.
O secretário de Finanças, Guillermo Nielsen, responsável pelas
negociações com os credores internacionais, já adiantou algumas
das propostas que devem ser
apresentadas pelo governo.
Uma delas seria trocar os bônus
que estão em moratória por outros que teriam rendimento atrelado ao crescimento da economia.
Ou seja, quando a expansão for
maior, paga-se mais e vice-versa.
O governo estuda ainda reduzir
o valor nominal da dívida (ou seja, abater o preço do título) entre
50% e 70% ou combinar redução
do valor de face dos papéis com
menor taxa de juros. Neste caso, o
corte no preço de face seria menor, entre 20% e 30%.
Outra alternativa seria manter o
valor nominal da dívida, desde
que o investidor concorde em
alongar os vencimentos para prazos de 10 e 12 anos.
"O governo teria de negociar
uma taxa de juros média de 8%.
Essa seria a condição para que a
dívida não volte a ser explosiva no
futuro", disse Amorim.
O analista considera ainda que o
governo poderá contar com o
chamado "período de graça". Ou
seja, ficaria isento de pagamentos
de juros e amortizações por um
período de dois ou três anos para
ajustar as finanças.
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