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O ALVO DOS CORTES
Perguntar à chefia como melhorar no trabalho e mostrar iniciativa pode tirar nome da "lista negra"
Diálogo pode contornar desfecho ruim
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Se é certo que vai haver cortes, o
que você pode fazer para aumentar sua chance de permanecer na
empresa? Pergunte ao seu chefe.
Essa simples questão, afirmam
consultores ouvidos pela Folha,
demonstra intenção de colaborar
com a empresa em uma hora difícil, disponibilidade para buscar
soluções alternativas e até disposição para fazer sacrifícios. Em resumo: pode ajudar o empregado a
escapar dos desligamentos.
É preciso, no entanto, que toda a
disposição demonstrada seja sincera e que venha de alguém já
comprometido com o trabalho.
Do contrário, o funcionário pode
ser visto como um oportunista ou
um simples "puxa-saco".
"Não adianta correr na hora em
que a coisa está acontecendo, a
não ser que você seja um político e
saiba fazer conchavos. A saída é
mesmo a competência", ensina
Neli Barboza, da Manager. Se
quem oferece ajuda é um funcionário capacitado e competente,
não há empresa que veja isso como negativo, afirma ela.
Sentir-se "ameaçado", por mais
incrível que pareça, pode ser uma
coisa boa para não se esquecer da
carreira e manter-se atualizado.
"Quanto mais você se sente seguro no emprego, mais perto da demissão você está", diz Barboza. A
sensação de segurança, segundo
ela, tem a ver com acomodação. Já
o "estresse" pode ser redirecionado para dar mais gás ao trabalho.
Mas, se é bom estar atento aos
sinais de que o emprego pode estar ameaçado, também é necessário tomar cuidado para evitar a
paranóia. "Achar que está em perigo porque o chefe não sorriu ou
porque não deu bom-dia não tem
cabimento", afirma Marcelo Mariaca, da Mariaca & Associates.
A análise deve ser mais aprofundada, segundo ele. Avaliar a
relação com o superior e com os
colegas, descobrir se está satisfazendo as aspirações deles e fazer
uma auto-avaliação de desempenho seriam os verdadeiros passos
para verificar a estabilidade.
Depois que ocorre a demissão, o
conselho é manter o foco na carreira e nos objetivos já traçados.
Não abandonar iniciativas como
a pós-graduação é outra dica importante. Quem está empregado
tem melhores condições de negociar na hora de buscar uma nova
colocação, mas quem foi dispensado não deve pensar que tem
menos chances de se dar bem.
"Estar desempregado não é
uma barreira em si. O importante
é não se sentir um coitadinho.
Muitas vezes os sinais [da demissão] já estavam claros, e a pessoa
não prestou atenção e não tentou
evitar", afirma Guilherme Velloso, diretor da consultoria Panelli
Motta Cabrera e Associados.
Competição
Pesquisa qualitativa feita pela
empresa júnior da ESPM (Escola
Superior de Propaganda e Marketing) com 40 universitários da escola e de instituições como USP,
Faap, PUC-SP e Ibmec, concluiu
que graduandos têm como maior
preocupação a empregabilidade e
vêem os colegas de curso como
futuros contatos profissionais ou,
então, como concorrentes.
"Os jovens de hoje sabem que
têm de ser os melhores para ficar
distantes dos cortes", explica a
professora Aylza Munhoz, diretora da pós-graduação da ESPM.
Segundo ela, a pesquisa mostra
que os alunos conhecem bem as
dificuldades do mercado de trabalho. "Eles estão convencidos de
que têm de estudar sem parar para não cair fora do jogo. Ninguém
vai simplesmente pendurar o diploma", declara a professora.
Ter boa formação, objetivo definido para a carreira e continuar se
atualizando constantemente não
é garantia de emprego. Apesar
disso, quem tem esses atributos
tem mais chances de deixar a empresa em melhores condições.
Entre altos executivos, ensinam
os consultores, há em geral dois
tipos de corte: para reestruturar a
empresa e por desgastes de relacionamento. São cortados os que
estão desatualizados e aqueles
que incomodam -algumas vezes
justamente por gerarem melhores
resultados que os demais.
Quem faz sucesso na organização e não tem o posto máximo em
sua área teria dois destinos no
mercado de trabalho: ascender
rapidamente e ultrapassar os "desafetos" ou continuar se desgastando e esperar o corte, que nesse
caso seria mera questão de tempo.
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