São Paulo, domingo, 09 de março de 2003 |
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LUTO-DESEMPREGO Demissão causa "rupturas" na vida social
AMARÍLIS LAGE FREE-LANCE PARA A FOLHA Há um ano, Edison Teixeira de Souza, 27, foi demitido da empresa em que trabalhava como operário. O motivo? A já clássica "re-estruturação de gastos". Saiu com uma promessa: assim que a situação melhorasse, seria convidado a voltar. O convite nunca veio. Há três meses, Souza decidiu sair de casa, deixando a mulher e as duas filhas. Por não trabalhar, sentia-se constrangido e "inferior" diante da família. Dessa vez, foi ele quem fez a promessa: "Se conseguir encontrar emprego, volto para casa na mesma hora". Souza é um dos milhões de brasileiros que convivem com o fantasma do desemprego, o que significa mais do que a angústia de não ter renda no fim do mês. "A pessoa demitida não perde apenas a estrutura econômica; perde também toda a sua relação social", diz o diretor da consultoria BPI Brasil, Gilberto Guimarães. É no trabalho que a pessoa se sente útil, estabelece grande parte de suas relações pessoais e alimenta a auto-estima. Em razão disso, não é raro que termine associando o cargo no emprego à formação da própria identidade. A perda de toda essa estrutura leva a sentimentos de rejeição, incompetência, revolta e culpa. O quadro emocional resultante do desemprego pode ser comparado, de acordo com alguns especialistas, ao sentimento de luto. Temor da atualidade Não é por acaso que, segundo pesquisa desenvolvida pelo psicólogo francês Dominique Clavier em 17 países, um dos maiores temores da atualidade é a possibilidade de perder o emprego -resposta apontada por 72% dos entrevistados (leia ao lado). Além de ser uma situação difícil por si só, o desemprego prolongado acarreta outras complicações. A pesquisa de Clavier também indica que, quando persiste por muito tempo, a falta de emprego pode ocasionar distúrbios somáticos, como doenças cardiovasculares, problemas neurológicos, insônia e dificuldades sexuais. O pior é que o sentimento de luto decorrente do desemprego cria um círculo vicioso: a pessoa está deprimida porque está desempregada e não consegue emprego em razão da crescente depressão. "As pessoas tendem a acreditar que quem tem um excelente currículo vai rapidamente ser recolocado no mercado. Mas se a pessoa estiver deprimida, com a auto-estima em baixa, pode ter o melhor currículo do mundo que não vai adiantar nada", explica a psicóloga Laura Castelhano, 27. Um dos melhores remédios para o impasse está dentro de casa: o apoio familiar, fundamental para o desempregado recuperar a confiança em sua capacidade. Mas a situação de cobrança e pressão pode acabar levando até mesmo à ruptura das relações familiares, como aconteceu com Edison de Souza. "Ficar em casa, para mim, é muito constrangedor." Próximo Texto: Segredo é não cair no comodismo Índice |
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