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Médicos dizem que exposição ao aroma reduz vontade de comer e pode satisfazer o cérebro
Cheiro de chocolate na fábrica sacia o apetite
DA REPORTAGEM LOCAL
"Quem trabalha não percebe,
mas o cheiro de chocolate sacia
a compulsão." Para Lúcia Fachga,
proprietária da Fachga Chocolatier, o aroma de sua fábrica "alimenta o cérebro" e é um dos
grandes trunfos dos fabricantes
de chocolate para inibir o consumo entre os empregados.
"Aqui dentro, com o cheiro
exalando o tempo todo, o funcionário sacia essa vontade", afir-
ma a empresária, que atualmente
se contenta com apenas um bombom por semana.
Na Cacau Show, o odor constante de chocolate determina baixo consumo de bombons pelos
empregados, segundo o gerente
comercial, Marcelo Martins. "A
pessoa não come porque enjoou
de ver, de manusear, de sentir o
cheiro. A gente nota isso."
Vicente Afonso, da Personal
Chocolate Promocional, concorda que o forte aroma da linha
de produção reduz a degustação,
mas não a elimina. "Só vejo as
gordinhas saindo da produção",
brinca ele, que prefere começar
os processos de contratação da
empresa pelas "magrinhas".
Cacauína
A relação da queda do apetite
nas fábricas com o odor do chocolate é explicada pelo médico
Geraldo Medeiros, professor de
endocrinologia da USP (Universidade de São Paulo). "A exposição
ao cheiro sacia o cérebro, e a pessoa passa a não comer chocolate."
Ele explica que o aroma desse
alimento contém cacauína, substância que interage no cérebro
com o que chama de "receptores
para chocolate". De acordo com
Medeiros, quando vazios, esses
"receptores" ficam pedindo chocolate. Daí a necessidade de comer o doce.
Segundo ele, as mulheres têm
maior quantidade de "receptores" e, por isso, são mais propensas a se tornarem "chocólatras".
Com base na tese, foi desenvolvida na Europa uma espécie de
inalador de chocolate.
Em contrapartida, os trabalhadores que enjoam do chocolate
têm esses "receptores" constantemente cheios, já que estão continuamente expostos ao aroma.
Psicológico
Antônio Carlos Lopes, professor de clínica médica da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo), também afirma que o
contato diário com o aroma dos
alimentos reduz significativamente a vontade de comer.
"Se ficarmos expostos a determinado odor durante muito tempo, acabamos sendo insensíveis a
ele." Cheiros contínuos não são
prejudiciais à saúde dos empregados, segundo Lopes, e raramente
eles não se adaptam.
O otorrinolaringologista e alergista João Ferreira de Mello Junior, 42, pontua, entretanto, que a
perda do apetite não se justifica
apenas pelo olfato. Para ele, fatores psicológicos, como o consentimento para a degustação, devem ser avaliados quando se trata
da "repulsa" ao alimento. "Enjoar
é um processo psicológico, não é
puramente nasal."
Para João Luiz Loureiro, 55,
chefe de cozinha da rede Habib's
há 12 anos, as 200 mil esfihas que
produz mensalmente são suficientes para alimentá-lo "psicologicamente". "Só de ver a quantidade, já me sinto satisfeito", conta
o cozinheiro, que, à época em que
trabalhou em uma churrascaria,
preferia alimentar-se de vegetais.
Cartão vermelho
Em outro segmento da indústria de alimentos, entretanto, a
degustação na linha de produção
pode causar demissão.
José Antônio Vasconcelos, sócio-proprietário da cervejaria Baden Baden, de Campos do Jordão
(167 km a nordeste de São Paulo),
avisa que casos de consumo em
ambiente de trabalho são punidos
com "demissão sumária", exceção feita aos degustadores oficiais.
Embora às vezes se sinta atraído
pelo aroma da cerveja, o prático
cervejeiro Silvestre Pereira Filho,
22, respeita com rigor os horários
de degustação. "O cheiro não inibe a vontade de tomar. Às vezes,
dá vontade, mas não posso. Há a
hora certa de acesso."
(SBR)
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