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"PEGADINHA" PROFISSIONAL
Fernando Moraes/Folha Imagem
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Candidatos em "seleção-pegadinha"; ganha pontos quem raciocina rápido, mas com simplicidade |
Empresas usam "enigmas" para contratar
RENATO ESSENFELDER
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Imagine a situação. Você está na
ante-sala de uma grande organização multinacional. À sua frente,
um executivo engravatado se ajeita sobre a cadeira, olha atentamente para você e pergunta, sem
rodeios: "Como colocar um elefante na geladeira?".
A cena parece mesmo absurda,
mas nem é tanto. Trata-se de uma
entrevista de emprego -com direito a pré-seleção e triagem, análise de currículo e checagem de
antecedentes profissionais. A diferença é que nessa seleção não
bastam os métodos tradicionais
de "investigação" dos candidatos.
Os defensores das chamadas
"pegadinhas" (leia exemplos no
quadro ao lado) afirmam que elas
são muito úteis para se conhecer a
"verdadeira pessoa" por trás do
estereótipo de "candidato ideal".
"É uma ferramenta válida, ajuda a "soltar" o candidato e a delinear seu perfil comportamental",
argumenta João Schlickmann Neto, diretor administrativo e financeiro da Apsen Farmacêutica.
Segundo ele, boa parte dos 394
funcionários da empresa já passaram por "testes alternativos". Por
exemplo: planejar um assalto a
banco em 20 minutos. No meio
do exercício, o entrevistador muda as regras do jogo, informando
sobre a existência de câmeras, policiais e vigias inesperados.
"As pessoas estranham -ainda
mais por usarmos um assalto a
banco para medir planejamento
estratégico e capacidade de adaptação. Mas funciona", diz Neto.
Brincadeira séria?
O aluno de informática Henrique Elton de Souza, 24, diz que
não seria surpreendido em uma
seleção por uma enquete desse nível. Pelo contrário, até se sentiria
"em casa". "Nas aulas de lógica, o
professor perguntava essas coisas
também. Parecem bobas, mas as
questões têm fundamento."
Partilhando dessa crença, a consultoria de recursos humanos
Adecco -pela qual 80 mil trabalhadores passaram em 2002 no
país- aplica "pegadinhas".
Na agência, esses testes são eliminatórios. "O peso é igual ao de
questões técnicas", compara a gerente regional Adriana Andrade.
Ou seja, saber se sair bem de uma
pergunta capciosa é tão importante quanto ser bom de cálculo
para ter vaga na área financeira.
Nem todos são fãs do sistema,
contudo. "Eu diria que metade
usa e que a outra metade condena", calcula Schlickmann Neto.
Para os críticos, não faltam argumentos (leia na pág. 3). "São
perguntas sem pé nem cabeça que
não provam nada. Não é científico", opina o vice-presidente do
Grupo Foco, João Canada Filho.
Agora a resposta apontada como a mais "lógica" para a pergunta do início: "Para pôr o elefante
na geladeira, abra a porta".
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