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PÓS & MBA
Sem planejamento cuidadoso, curso de pós pesa no bolso e paralisa a vida profissional
Corrida pelo diploma pode "frear" carreira
FREE-LANCE PARA A FOLHA
O gaúcho Daniel Zilberknop,
38, era diretor financeiro e um dos
executivos mais importantes de
uma holding de alimentos quando, em 2000, deixou o posto para
fazer MBA nos Estados Unidos.
Na volta ao Brasil, no final de
2001, o mercado o classificou de
"overqualified", ou seja, qualificado (e caro) demais. Resultado: ficou quatro meses sem trabalho
até conseguir se recolocar.
O caso é um exemplo de que se
dedicar a um MBA pode, em certas situações, ter efeito contrário
ao esperado. O profissional precisa se planejar antes de investir no
curso, principalmente se pensa
em estudar fora do Brasil.
"Eu achava que não teria problemas para conseguir um trabalho aqui quando voltasse com um
diploma do MIT", diz ele, que depois de algumas portas fechadas
passou a esconder dados do currículo e evitou dar destaque à pós
na prestigiada instituição norte-americana. "Confesso que isso
me causou certo desgosto. No
Brasil, acho que ainda há poucas
empresas que valorizam um MBA
de peso", opina Zilberknop.
Especialistas ouvidos pela Folha
explicam que há casos em que a
decisão deve ser reavaliada (veja
quadro), como quando a empresa
não é flexível com relação a horários de trabalho. Profissionais que
iniciaram recentemente a carreira
na companhia também devem refletir com cautela .
"O aluno tem de estar seguro de
que quer fazer o MBA", salienta
Tharcisio Souza Santos, diretor
do MBA executivo da Faap.
Investimento
Não se deve achar que o dinheiro gasto no MBA vai ser recuperado de imediato. O diploma pode
render um cargo melhor e mais
bem remunerado, mas isso não é
garantido nem automático.
A crise obrigou as empresas
brasileiras a serem mais seletivas
na concessão de subsídios, principalmente para cursos caros como
os de MBA. O funcionário que decidir bancar o programa por conta própria deve planejar os gastos
minuciosamente.
No momento em que decidiu
investir num MBA, o executivo
Oliver D'Haese não imaginava
que a iniciativa poderia ser mal
recebida pelos chefes. Ele trabalhava em uma empresa familiar
em Lapa (a 60 km de Curitiba),
cujos donos interpretaram a iniciativa como sintoma de quem
pretende alçar vôos mais altos para fora da companhia.
"Começaram a tirar algumas
das minhas responsabilidades e a
diminuir aos poucos o meu trabalho", lembra ele, que durante um
ano viajava todos os fins de semana até Curitiba, tomava um avião
para Campinas, onde assistia às
aulas, e na segunda-feira pela manhã estava de volta ao batente.
"Usei as férias de dois anos seguidos para freqüentar os módulos nos Estados Unidos. Paguei
tudo do meu bolso, com economias que eram destinadas à compra da casa própria", relembra
D'Haese, que acabou saindo da
empresa e hoje ocupa cargo de gerência na Scania. "Foi puxado,
mas não me arrependo", diz. No
novo trabalho, D'Haese ganha
quase o dobro e já não corre mais
o risco de ser mal interpretado
por buscar atualização.
Vida familiar e pessoal
Além do momento da carreira e
do resultado que se espera do
MBA, a hora certa de fazer o curso
depende do equilíbrio na vida
pessoal e familiar do profissional.
O executivo deve ter em mente
que vai se dedicar a longas horas
de estudo fora da sala de aula. A
carga de leitura é pesada, e acompanhamento cuidadoso dos textos é fundamental para o sucesso
da empreitada.
"Não é que a pessoa que faça
MBA tenha de viver num mar de
rosas. Mas, se está com problemas, seja do tipo que for, é melhor
resolver primeiro e fazer o curso
depois", explica Andrea Barcelos,
da KPMG. "Só assim ela terá tranqüilidade para se dedicar ao curso
e conseguir reverter em resultados o que aprendeu", completa.
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