|
Próximo Texto | Índice
LICENÇA PARA CRIAR
Benefício acirra dilema da mulher
Profissionais que se tornam mães conciliam amamentação e cuidados com o bebê em "home office"
Rafael Hupsel/Folha Imagem
|
|
SEIS MESES DE AFASTAMENTO:
A servidora Andréia Santos, 33, está de licença há um mês. Segundo a Secretaria de Gestão Pública do Estado, em 2006, 1,6% do total das ausências foi por licença à gestante ou por adoção
MARIA CAROLINA NOMURA
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de apenas dez dias do
nascimento de seu filho, a diretora comercial Erenice de Almeida Alencar, 38, compareceu
a uma reunião da empresa.
"Eu ainda estava com os pontos da cesária, mas era uma
reunião estratégica", justifica.
Outros dez dias depois, voltou a trabalhar em período integral: "Era a única diretora
mulher e me pressionei muito".
Um dia, Erenice disse para o
filho, que estava então com seis
meses: "Vem com a mamãe".
Ele foi para os braços da babá.
"Nesse momento, vi que não
valia a pena o cargo, se a pessoa
mais importante do mundo não
me reconhecia como mãe."
Dilemas como o da executiva
são freqüentes e ficam mais
acirrados agora, quando se
debate a extensão da licença-maternidade de quatro para
seis meses -a mudança acaba
de ser aprovada para as servidoras estaduais de São Paulo.
"Se a mulher não usufrui dos
quatro meses já existentes, o
que dirá de seis", questiona a
consultora Renata Lindquist,
40, sócia-diretora da Mariaca.
Para Lindquist, está claro
que quanto mais alto o nível de
gerência, maior será a deman-da de trabalho e a pressão.
"É esperado que a mãe fique
trabalhando de casa, on-line.
Se a profissional ficar totalmente fora, pode-se pensar que
ela não estava tão envolvida."
Mães executivas
Marisa Thalberg, fundadora
do site norte-americano Executivemoms.com -uma rede
de relacionamento de mães
executivas-, diz que a dedicação ao trabalho pode ser tanto
uma estratégia para não ficar
ausente como uma maneira de
continuar a investir na carreira.
Apesar da pressão para a mulher abdicar da licença, há
quem contrarie a maré. O consultor Diego Lopes, 34, da Dextron Management Consulting,
aconselha as profissionais a
aproveitarem o período para
refletirem sobre a profissão.
Foi o que fez a executiva P.G.,
34, que preferiu não se identificar: "A maternidade me trouxe
outras ambições e interesses.
Mudei de área quatro meses
depois de voltar ao trabalho".
Irrenunciável
Para o procurador do Trabalho Daniel Gaiotto, a licença-maternidade é um direito irrenunciável. "A empresa não deveria aceitar que a mulher trabalhasse de casa porque quem
paga a licença é a Previdência."
A advogada trabalhista Fabíola Marques acrescenta que,
se ficar comprovado que a mulher trabalhou nesse período,
ela poderá pedir indenização
na Justiça até dois anos após a
demissão.
Próximo Texto: Licença para criar: Empresas investem em cuidados com a mãe Índice
|