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São Paulo, domingo, 27 de abril de 2003

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EM BUSCA DE RUMO

Plano atenderia ao menos 100 mil por ano dos 8 milhões sem ocupação

Metade dos desempregados são jovens

Fernando Moraes/Folha Imagem
Cristiano Almudi, estudante de administração que procura estágio há um ano, diz que é difícil se destacar da forte concorrência


PAULA LAGO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Junte crescimento econômico tímido, empresas cada vez mais enxutas e exigentes na hora da contratação e jovens sem experiência. O resultado são aproximadamente 8 milhões de pessoas de 16 a 24 anos sem ocupação no Brasil, segundo os dados do Ministério do Trabalho e Emprego.
Dessas, 3,5 milhões estão à procura de emprego. Comparando com a população total, de cada dois desempregados, um é jovem.
Tendo esses dados como base e essa faixa etária como alvo, o governo federal elaborou o programa Primeiro Emprego. O lançamento, antes previsto para Primeiro de Maio, não tem data confirmada pelo Planalto. O principal motivo para o adiamento do anúncio seria a incerteza quanto à origem e ao volume de verba a ser destinada ao programa.
O plano teria três focos. O primeiro é a qualificação de quem tem renda familiar mensal de até meio salário mínimo, com formação até o ensino fundamental.
O segundo é a criação de vagas, sendo oferecido pelo governo um salário mínimo mensal por inscrito. E o terceiro, o estímulo ao empreendedorismo, com linhas de microcrédito de até R$ 5.000 e apoio técnico no negócio próprio. A previsão do ministro Jaques Wagner (Trabalho) é atender de 100 mil a 250 mil jovens neste ano.
Para o professor titular de demografia da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) Eduardo Rios-Neto, 47, autor de nota técnica para o ministério sobre o programa, ter várias frentes e ser experimental são pontos positivos. "Para ser eficiente, a atuação não pode ser igual e única, isso aumenta a desigualdade."
Segundo Carlos Roberto Liboni, 52, primeiro-vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), a proposta favorece a geração de vagas. "O importante é oferecer trabalho, e o programa facilita isso. O problema não está no jovem, mas no desenvolvimento econômico."

Críticas
O programa também é alvo de críticas. A principal delas é a possibilidade de que venha a ser viabilizado com renúncia fiscal dada às empresas participantes.
"Basear-se apenas na renúncia fiscal não é o caminho", afirma Rios-Neto. "É extremamente difícil para o governo abrir mão de crédito, principalmente em épocas de crise", emenda Cássio Mesquita Barros, 71, professor titular de direito do trabalho da USP (Universidade de São Paulo).
Barros discorda também da exigência de que as empresas tenham de manter o mesmo quadro de pessoal por 12 meses. Segundo o ministério, a intenção é evitar demissões de adultos já contratados. "Estabilidade nunca segurou ninguém. Há o risco de o empresariado não aderir. Há casos bem-sucedidos de programas como esse que não propuseram renúncia fiscal nem estabilidade."
Luiz Gonzaga Bertelli, presidente-executivo do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), destaca que a preocupação com a formação não deixou de ser crucial. "Para as empresas, a questão central está na qualificação do jovem, que precisa estar preparado para exercer sua função", analisa.
Essa formação não se restringe ao conhecimento técnico, mas abrange também o desenvolvimento de atributos que influenciam na obtenção da vaga, como a facilidade de comunicação.
"É preciso envolver também o Sistema S [como Senai, Sesi e Senac] e as escolas nesse processo de qualificação dos mais carentes."
Marcio Pochmann, 40, economista e secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da Prefeitura de São Paulo, avalia que o jovem de hoje está mais bem preparado que o de 20 anos atrás. "Mas estamos na maior das crises de emprego. A competição é dividida com os que têm experiência, e o jovem fica de fora."
"O nível de trabalho cresce com expansão econômica", completa Pochmann. "O município não gera vagas. Nós, por exemplo, pagamos o custo de formação no local de trabalho, e a empresa o contrata com carteira assinada."
A prefeitura oferece também bolsas para qualificação, cursinho pré-vestibular e estágio. No Bolsa Trabalho-Renda, de capacitação, 39 mil jovens foram atendidos desde 2001. A meta era atingir 40 mil só naquele ano. A secretaria declarou não ter estimativas dos outros programas por terem sido lançados em fevereiro deste ano.
Se qualificar é necessário, conscientizar o empresariado vira regra para gerar vaga e, talvez até mais importante, manter o jovem nesse posto recém-criado.
"Arrumando o primeiro emprego, você tem um projeto de longo prazo. Mas é preciso haver sustentação, para não admitir o filho e demitir o pai", diz Liboni.

Informações - CIEE: www.ciee.org.br; Prefeitura de São Paulo: www.trabalhosp.prefeitura.sp.gov.br.


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