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Dinâmicas de grupo excluem aspirantes com brincadeiras de critérios duvidosos
Jogos avaliam candidatos
FABIANA CIMIERI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As técnicas de psicologia social
evoluíram após a Segunda Guerra
e começaram a ser utilizadas em
processos seletivos da década de
70. As dinâmicas de grupo passaram a ser usadas no Brasil nessa
época. Hoje é improvável que um
profissional consiga o primeiro
emprego em uma grande empresa sem passar por elas.
Essa forma de avaliação se tornou a principal peneira da seleção, pois permite avaliar um número grande de candidatos em
pouco tempo, se comparada com
as técnicas tradicionais.
Em geral, a dinâmica acontece
após uma prova de línguas ou de
conhecimentos gerais e precede
as entrevistas pessoais. Os candidatos são divididos em grupos de
dez a 15 pessoas. Enfrentam situações-limite por um período de pelo menos quatro horas, no qual
todas as reações são analisadas.
"Como o jovem muitas vezes
não tem experiência, ele participa
de dinâmicas que avaliam competências", explica a diretora da
Career Center, Karin Parodi.
Defendida com unhas e dentes
pelos profissionais de recursos
humanos, entre os estudantes a
dinâmica é vista com um misto de
medo com desconfiança.
Constrangimento
A administradora recém-formada Renata Fzterling, 23, calcula
ter participado de mais de oito dinâmicas. Afirma ter saído humilhada em pelo menos 70% delas.
Fzterling sentiu-se ofendida ao ter
de simular uma discussão, "que
incluía xingamentos", situação
que diz evitar no dia-a-dia. Em
outra ocasião, teve de compor
uma música com o nome da empresa e depois representá-la, cantando e dançando.
Na opinião da administradora,
as dinâmicas intimidam o can-
didato e impedem que ele se mostre como realmente é.
Não é o que pensa o consultor
John Cymbaum. Segundo ele, o
caráter lúdico dos jogos deixa as
pessoas mais autênticas.
Cymbaum discorda das críticas
dos estudantes, que dizem faltar
critérios nas brincadeiras. "Apesar de parecerem esdrúxulos, esses jogos podem ter por trás uma técnica solidificada", afirma.
Critérios objetivos
Luciana Guedes Pinto, gerente
técnica da Companhia de Talentos, explica que os critérios não
são tão subjetivos quanto parecem. Segundo ela, cada tarefa é
montada com o objetivo de avaliar o nível que os candidatos têm
em competências predefinidas.
Cada pessoa é analisada tendo
como parâmetro as qualidades
determinadas pelo perfil que a
empresa busca. Interação com o
grupo, capacidade de argumentação, nível de agressividade e de
flexibilidade são sempre observados, apesar de cada dinâmica ter
um alvo próprio.
Para um cargo de gerente de
vendas, um determinado nível de
agressividade é positivo. Para
uma posição administrativa, essa
mesma atitude é negativa.
Luciana conta ter avaliado uma
candidata em duas situações. Numa, a pessoa concorria a uma vaga de trainee e não passou por falta de liderança. Em outra ocasião,
a mesma candidata concorria a
uma vaga técnica e foi reprovada
por excesso de liderança.
"É desvio de percepção dar à dinâmica de grupo um caráter decisório", diz o filósofo e doutor em
educação Mário Sérgio Cortella.
Para ele, os valores mudaram, e
o trabalho passou a ser coletivo.
Antes a seleção se concentrava em
habilidades individuais. "Pessoas
que hoje ocupam a primeira linha
das empresas seriam excluídas se
fossem avaliadas por dinâmicas."
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