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Nova York tem festa do "câncer idiota"
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
A noite de Manhattan é povoada por festas que começam cedo, são abrigadas em
lugares apertados, mas que, em meio a tantas outras qualidades, fazem a cidade
conhecida como paraíso dos solteiros.
Há duas quintas-feiras, às 21h, atrás de uma dessas pequenas portas no West Village,
um grupo de cerca de 200 adolescentes e jovens vivia a sua noite, com cerveja, "dance
music" dos anos 90 e garotas falando sobre cirurgia plástica.
Yadisa Disla, 28, conta à amiga Naomi Butt, 35, que está em dúvida sobre o volume
das próteses de silicone que colocará em breve. Ela teve de retirar as duas mamas
após descobrir que tinha câncer e diz que não vê a hora de recompor o visual. Ao seu
redor, o assunto não é tabu. Acontece ali o segundo "Stupid Cancer Gala" (baile de
gala do câncer idiota), da ONG "I’m Too Young For This" (sou jovem demais para
isso).
Naomi tem muito a dizer à amiga. Após se curar de um câncer no intestino, ela decidiu
participar do grupo para passar adiante o que aprendeu com a doença. E também
ouvir.
Yadisa conta sua história: "Descobri que tinha câncer no dia 31 de outubro do ano
passado. Estava trabalhando quando recebi o resultado. Fui para casa, coloquei minha
fantasia de bruxa e fui para o Halloween que meus amigos haviam organizado. Bebi,
dancei, fiz tudo o que sempre fiz em uma festa. Eu me recusei a ter uma vida diferente
por ter câncer."
O grupo tem o propósito de promover o alto astral, mas muitos ali defendem o direito
de "ficar na fossa" nos momentos de preocupação. "Para mim não ficou tudo bem. Sofri
muito quando descobri meu câncer de ovário. Mas tive forças para lutar e me esforcei
para ter uma vida normal. Isso foi há cinco anos e agora estou aqui, muito, muito bem",
diz Jennifer Rachman, 30.
O grupo começou há pouco mais de um ano, com um blog criado por Matthew Zachary,
que teve câncer e se deparou com problemas que iam além dos de saúde. "Tive um
período difícil tentando aceitar namorar de novo, aceitar minhas mudanças físicas e até
o impacto econômico que a doença teve na minha vida. Muitas dessas questões de
estilo de vida não tinham resposta, eu não tinha alguém da minha idade que tivesse
câncer e me entendesse", diz ele.
O site chamou logo a atenção dos internautas, ganhou destaque nos jornais e rendeu a
Zachary o programa de rádio "The Stupid Cancer Show" (o espetáculo do câncer idiota).
Na segunda edição do "baile de gala", no qual ninguém usava smoking, Omar Muca,
22, e Nicki Zdrojeski, 28, falavam sobre suas experiências tão diferentes com a doença.
Há cinco anos, Nicki descobriu que tinha um tumor no cérebro, foi encaminhada à
cirurgia de emergência e, um dia depois, estava curada.
Omar já teve câncer algumas vezes desde os quatro anos de idade e está são
atualmente. "Espero que fique bom para sempre. Os períodos da doença foram difíceis.
Eu cheguei a me isolar dos amigos, a não querer ver ninguém. Mas isso é errado, eu
sou novo demais para querer ficar longe de tudo o que a juventude me oferece."
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