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"Sem emprego, sozinha, com câncer? O que mais poderia me acontecer?"
DA REPORTAGEM LOCAL
A redatora publicitária Mirela Janotti, 41, foi diagnosticada com câncer de mama em
2006 e passou todo o ano de 2007 lutando contra ele. Perdeu um namorado, mas
conquistou outro, assim como aconteceu com o emprego. Foram oito sessões de
quimioterapia, outras 25 de radioterapia, várias histórias e questionamentos que
viraram livro. Munida do mesmo bom humor e otimismo com que conversou com a
Folha, a autora reuniu sua experiência em "Força na Peruca - Tragédias e Comédias
de um Câncer" (ed. Matrix), lançado em março de 2008. Leia a seguir trechos da
entrevista. (JS)
O DIAGNÓSTICO
"O médico viu três nódulos, começou a franzir a cara, pediu nova biópsia. Eu já
comecei a imaginar que era maligno, que teria metástase. Pensei que fosse morrer e
me deu uma pena... Pensava: ‘Por que minha vida iria acabar tão cedo se eu gosto
tanto de viver’?"
SILICONE
"O médico disse que eu perderia o seio todo, só pele e bico seriam preservados, e que
poderia já colocar o silicone. Ele foi ótimo, já tinha até agendado com o cirurgião
plástico. Depois da primeira cirurgia, descobriram metástase na axila e decidimos que
tiraria a outra mama. Já saí da operação com silicone, não tive de passar pela
sensação de não ter seios."
SEM NAMORADO
E SEM EMPREGO
"A situação foi mais complicada porque estava com um namorado muito legal, mas que
não segurou a onda e me deixou quando descobri que estava doente. Para piorar,
estava sem emprego: uma coisa atrás da outra. Sem emprego, sozinha, com câncer?
O que mais poderia me acontecer?"
ESPERANÇA
"Logo que fiquei sabendo da doença, uma amiga da minha mãe levou em casa uma
moça que tinha passado pelo mesmo problema, da mesma idade que eu. Ela nunca
tinha mostrado as mamas reconstituídas para ninguém e para mim ela mostrou. Ver ela
ali, viva, me encheu de esperança."
VAIDADE
"Sou vaidosa para caramba, durante o tempo em que fiquei careca usava uns lenços
coloridos, fazia um visual diferente, combinava as blusas com os lenços. Algumas
pessoas achavam que eu os usava porque era meu estilo. Eu carregava na
maquiagem, porque cílios e sobrancelhas tinham caído também, me produzia toda.
Quando se está em cima do salto as pessoas passam a admirá-la."
CELEBRANDO A VIDA
"Um mês antes de ir para a consulta médica, fico cheia de encanações, começo a
sentir dores no corpo, localizo uma pinta diferente... Quando abro o envelope e vejo
que estou bem, dá vontade de dar uma festa, de comemorar mais seis meses de vida."
SEXO
"Meu novo namorado, que conheci em uma balada durante o tratamento, foi
fundamental. O mastologista sempre me pergunta sobre a vida sexual, porque perdi a
sensibilidade nos seios, mas isso não me atrapalha, porque, para mim, o sexo é um
todo, começa na cabeça."
ORGULHO
"Ganhei mais simpatia das pessoas, parece que sou mais forte que a média, que eu sei
mais coisas porque sofri mais. Parece ridículo, mas eu me orgulho de algo que foi uma
tragédia. Isso passou a ser um ponto a mais no ‘currículo’. Sobrevivi a um câncer."
NA INTERNET
www.folha.com.br/081833
Leia texto sobre a história de Danielle Baron, autora do blog Contemporary Cinderella
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