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ROSELY SAYÃO
Perfil falso no Orkut
A mãe de duas adolescentes me escreveu
contando que as filhas criaram perfis no
Orkut em nome de atrizes famosas e que ela não sabia como
reagir. Considerava estranho
que as garotas falassem em nome de outra pessoa, mas, ao
mesmo tempo, pensava que poderia ser apenas brincadeira
-já que, segundo as filhas, os
freqüentadores do site de relacionamento saberiam que se
tratava de um perfil "fake" (como são denominados os falsos).
Como eu nunca ouvira falar
dessa prática, deixei para conhecer melhor esse fenômeno
comum entre os jovens antes
de comentar. Coincidentemente, quase ao mesmo tempo, fui
avisada por uma amiga de que
ela encontrara, no mesmo site,
um perfil "fake" em meu nome.
Resolvi, então, pesquisar para constatar que tipo de "brincadeira" era essa. Primeira dificuldade: não conseguia entrar
no site porque não sou cadastrada. Isso dificulta sobremaneira que pessoas que têm a
identidade roubada possam
acompanhar o que se passa na
página criada em seu nome. Segunda dificuldade: conseguir
contatar os administradores do
site para que apaguem o perfil.
Fiz isso, e eles pedem uma série
de documentos para quem solicita que seu perfil seja apagado,
mas não pedem para quem cria,
não é insólito? Depois, eles
simplesmente não respondem.
Esperei mais de três semanas
para ter a página em meu nome
e com minha foto apagada.
Não se trata de brincadeira, e
sim de enganação, de fraude.
Um advogado me informou, inclusive, que tal fato pode ser enquadrado como crime de falsidade ideológica. Na página criada em meu nome, por exemplo,
muitas pessoas acreditaram
que realmente fosse eu e encaminharam mensagens solicitando ajuda. Essas pessoas foram enganadas e algumas até
forneceram dados pessoais ao
autor da página, que, pelo texto,
parecia se tratar de adolescente. Considero isso grave.
Os pais de adolescentes que
sabem que os filhos fazem isso
precisam ensinar que não se
trata de uma brincadeira, e sim
de fraude -e esse é um aspecto
importante na formação moral
do filho, futuro cidadão. É bom
que os pais saibam também que
há uma grande diferença entre
se fazer passar por uma pessoa
que existe e criar um perfil falso
de si mesmo -o que pode até
ser uma atividade criativa, que
permite autoconhecimento e
que não prejudica ninguém.
A internet tem sido palco de
práticas problemáticas entre
adolescentes. Muitos deles a
usam para ofender, caluniar,
expor colegas em festas etc.
O livro "Gossip Girl" e o seriado nele inspirado têm feito
sucesso entre a garotada e narram a história de um grupo de
adolescentes ricos que têm sua
vida exposta na internet por
uma blogueira anônima. O sucesso tem sentido porque diz
respeito ao que acontece entre
eles, provoca identificação.
Muitos pais acreditam que os
adolescentes podem usar a internet sem supervisão. Engano:
eles precisam de tutela -e não
apenas do tempo de uso-, já
que podem sofrer ou provocar
constrangimentos e passar por
experiências desastrosas.
Aprender a usar bem a internet
exige ensinamentos, afinal.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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