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ENTREVISTA
Feito em casa
O educador japonês Saburo Shochi, 101, discute sua proposta de interação entre pais e filhos por meio da construção de brinquedos com sucata
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Às vésperas de completar 102 anos, o educador japonês Saburo
Shochi é especialista
em infância e brincadeiras. E,
aos poucos, também vem se especializando em viagens -há
quatro anos, começou uma série de voltas ao mundo para divulgar seu método de ensino
para crianças pequenas: uma
proposta de interação entre
pais e filhos por meio da construção de brinquedos artesanais com sucata. Nesta semana,
ele chegou ao Brasil para quatro palestras (duas estavam
previstas para ontem, uma para
hoje e a última para sábado).
Além de se dedicar às palestras, ele coordena a Shiinomi,
escola voltada para crianças
com necessidades especiais.
Shochi, que teve dois filhos
com paralisia cerebral, criou a
instituição em 1954 -foi a primeira desse tipo no Japão. Leia
trechos da entrevista concedida à Folha por e-mail.
FOLHA - Países orientais e ocidentais têm uma visão diferente da
educação infantil?
SHOCHI - Na educação ocidental, o individualismo é estimulado desde cedo, buscando revelar os alunos mais brilhantes.
Na oriental, a escola é uma espécie de extensão da família,
onde as crianças aprendem sobre o sentido de viver.
FOLHA - Como funciona o seu programa de brinquedos artesanais?
SOCHI - Utilizando tesoura, cola, tubos, caixas, cartolina e canetas, podemos criar brinquedos e despertar na criança o
prazer da criatividade. O auxílio dos pais é necessário para a
execução dos brinquedos, e isso
ensina às crianças o respeito
aos pais, que, por sua vez, sentem-se realizados. Usando sucata, as crianças aprendem a
valorizar os recursos que têm.
Faz-se um brinquedo por mês.
Se ele quebra, é consertado. Se
a criança se cansa dele, pode-se
mudar sua cor, seu formato... A
transmissão da noção de progresso e da possibilidade de
melhorias é muito importante.
FOLHA - Como foi criar a Shiinomi?
SABURO SHOCHI - Naquele tempo, crianças portadoras de necessidades especiais eram tidas
como menos inteligentes e
proibidas de freqüentar a escola para não atrapalhar as outras. Construí uma escola onde
essas crianças pudessem receber uma educação adequada. O
principal obstáculo foi a ausência de experiência.
FOLHA - Qual era a sua meta?
SHOCHI - O principal problema
a ser enfrentado com as crianças portadoras de necessidades
especiais é o complexo de inferioridade. Se não tratado, isso
tende a se aprofundar e, aos dez
ou 15 anos, a criança corre o risco de se tornar uma pessoa socialmente inadaptável. Trabalhando com pequenos grupos,
inibe-se o sentimento de inferioridade. A criação do próprio
material permite um ensino
personalizado e, em vez de numa sala de aula convencional,
as atividades têm melhores resultados se forem conduzidas
ao ar livre.
Palestra gratuita "Educando o Coração"
Hoje, às 14h, no auditório da Faculdade de Educação da USP (av. da Universidade, 308, Bloco B,
Cidade Universitária, São Paulo). Informações
sobre vagas: 0/xx/11/3091-3574
Sábado (16/8), às 13h, na Associação Miyagui
Kenjinkai do Brasil (r. Fagundes, 152, Liberdade,
São Paulo). Não precisa de inscrição. Informações: 0/xx/11/3385-6607
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