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OUTRAS IDÉIAS
Wilson Jacob Filho
Essencial
Há algumas semanas,
ouvi uma palestra
impactante, daquelas que nos faz pensar muitas vezes no que foi dito
e no que foi deduzido a partir
do que foi dito. Em uma só palavra: fertilizante.
O filósofo Mário Sérgio Cortella nos convidou a pensar sobre o fundamental e o essencial. Deu vários exemplos do
que é fundamental para que o
essencial possa acontecer.
Hoje pela manhã me vi falando sobre isso sem ter planejado.
O tema era o pleno desenvolvimento do ser humano: isso é essencial. Os múltiplos caminhos
e ferramentas que levam a isso
são fundamentais, mas dependem da escolha de cada um.
Seria utópico supor que podemos atingir esse objetivo por
acaso. Se acontece, é efêmero. A
atenção ao que realmente importa e o zelo com cada particularidade devem ser constantes
e abrangentes: nada deve ser
esquecido.
Erra quem acredita que
"quanto mais, melhor". O excesso é, freqüentemente, tão
deletério quanto a escassez.
Sempre há um ponto onde se
encontra o maior benefício pelo menor custo ou risco.
Não será um bom jardineiro
quem cuida essencialmente
das roseiras e muito pouco dos
arbustos do canteiro. O essencial, neste caso, não é só a beleza das rosas, mas o equilíbrio
biológico que dá harmonia e
longevidade ao ambiente. O
uso de um fertilizante que torne as rosas mais exuberantes,
mas que lese o desenvolvimento das minhocas, fará com que
todas as plantas pereçam.
Na saúde, essa regra se aplica
em todos as situações. Já erramos muito ao desrespeitá-la. Já
acreditamos, há pouco tempo,
que, quanto mais obesos fossem as crianças e os adultos,
mais saudáveis seriam. Recentemente, as evidências científicas mostraram que a grande
maioria das doenças é agravada
pelo excesso de peso e que,
quanto mais precocemente
ocorrer, maior a sua importância. Temos também como certo
que o peso excessivamente baixo é causa de muitos malefícios.
Hoje, além de sermos capazes de estimar qual a melhor relação entre o peso e a altura em
cada fase da vida, também entendemos cada vez melhor qual
é o ponto mais adequado para o
controle da pressão arterial, da
prática de exercícios, da dedicação ao trabalho, da necessidade de lazer, das relações afetivas, enfim, de tudo aquilo que
compõe o inesgotável conjunto
de fatores que serão determinantes da qualidade de vida
atual e futura.
A atenção a cada um desses
aspectos deve ser individual,
sem perder, porém, a visão do
todo. Aquele que polarizar todas as atenções obrigatoriamente comprometerá a diversidade dos cuidados, visto que
somos um conjunto de componentes interativos, onde cada
qual depende intrinsecamente
do outro, em todas as fases do
desenvolvimento.
Inconseqüente é a idéia de
que podemos agredir agora a
saúde do indivíduo, da coletividade ou do planeta porque, depois, elas poderão ser recuperadas integralmente. Os erros
que cometemos hoje serão
sempre lembrados. Poderemos minimizá-los, com atitudes mais sensatas e planejadas,
mas jamais eliminaremos as
cicatrizes dessas injúrias.
Portanto, se temos como essencial viver muito e viver
bem, não há por que postergar
os cuidados com os fatores
fundamentais para uma longevidade saudável.
WILSON JACOB FILHO , professor da Faculdade de Medicina da USP e diretor do Serviço de
Geriatria do Hospital das Clínicas (SP), é autor
de "Atividade Física e Envelhecimento Saudável" (ed. Atheneu)
wiljac@usp.br
Leia na próxima semana a coluna de Michael Kepp
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