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ROSELY SAYÃO
Questões de independência
Uma leitora que é educadora profissional
conta que observa
que muitos pais
-mães, em especial- tomam
atitudes em relação à vida escolar dos filhos que demonstram
excesso de cobertura aos caprichos destes. Concordo com ela,
que, bem-humorada, criou um
discurso que ela chama de "pela
independência das crias" -que
não ganha boa repercussão entre os pais. Vamos, então, por
meio de exemplos, pensar a
respeito dessa boa questão.
Em tempos de Olimpíada, o
número de pedidos de pais às
escolas para que seus filhos
saíssem mais cedo ou entrassem mais tarde para assistir aos
jogos foi considerável. Sim,
muita gente gosta de assistir às
competições, crianças principalmente. O problema é a intervenção dos pais.
A vida escolar é a primeira
responsabilidade que as crianças devem enfrentar por conta
própria e isso resulta em crescimento. Além de estudar, elas
adquirem o que podemos chamar de aprendizados colaterais, como administração do
tempo, organização das rotinas, priorização de atividades,
renúncias temporárias ao lazer.
Todo aluno tem direito a faltar na escola. Eles sabem disso,
os pais também, e as faltas não
precisam ser justificadas pelo
aluno nem moralizadas pela escola. O aluno pode simplesmente faltar para assistir aos
jogos, para namorar, para ficar
dormindo, para ir ao médico,
para se recuperar de uma gripe,
para acompanhar os pais em
uma viagem. Os motivos não
são importantes, mas, para tanto, o aluno precisa aprender
que deve regular suas faltas para poder usá-las quando necessário ou desejado e que precisa
arcar com as conseqüências.
Quando os pais interferem e
fazem esses pedidos à escola,
atrapalham seus filhos no trajeto que precisam realizar para
a conquista da autonomia e da
responsabilidade porque resolvem, pelos filhos, questões que
eles deveriam saber como solucionar -tanto em relação à ausência nas aulas quanto às conseqüências dela.
A única coisa
que os pais ensinam aos filhos
quando agem assim é que fazem tudo para que eles não enfrentem a realidade.
Tenho vários outros exemplos que podem ser analisados
à luz desse primeiro: atrasos
que os pais assumem como responsabilidade sua, solicitação
para que a escola não exija muito da criança por ela estar vulnerável ou sensível, justificativas pela não-realização de trabalhos, recusa em aceitar sanções aplicadas pela escola etc.
Sabemos que cabe aos pais o
papel de proteger seus filhos,
mas essas atitudes não são protetoras, são infantilizadoras.
Como a segunda parte da infância tem como principal característica o crescimento da criança, os pais precisam permitir
que seus filhos aproveitem as
oportunidades que têm para
crescer, e elas estão principalmente relacionadas com a vida
escolar nos cinco primeiros
anos do ensino fundamental.
Muitos pais ainda acham
que, aos oito anos, é cedo para
que os filhos aprendam isso,
mas vale lembrar que, no mundo atual, eles têm aprendido
muitas outras coisas da vida
-essas sim, precocemente.
Por isso, em vez de poupá-los
de seus problemas, os pais precisam encorajá-los a encontrar
as melhores soluções, levando
em conta principalmente a realidade.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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