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ROSELY SAYÃO
Sobre pais e avós
Temos tido efemérides
em excesso. Quase todo dia é data para comemorar algo, mas,
em geral, quem comemora é o
comércio. Mas vou juntar duas
dessas datas bem próximas para nossa conversa de hoje: o Dia
da Vovó (final de julho) e o Dia
dos Pais (início de agosto).
Por que juntar essas duas figuras, aparentemente tão distintas na formação da família?
Ser pai e ser avô ou avó hoje
tem sido uma experiência diferente daquela que conhecemos.
Mas não deixa de ser curioso o
fato de que o Dia dos Avós seja
conhecido popularmente como
Dia da Vovó, não é? Vamos considerar os avós em geral.
Até pouco tempo atrás, eles
tinham uma função privilegiada na relação com os netos: o
bom mesmo era desfrutar da
relação com as crianças, o que é
renovador para os velhos.
Criança tem energia de sobra, é
afetiva e, quando mimada, responde mais carinhosamente
ainda no relacionamento. Já
com os filhos que se tornaram
pais, o papel dos avós era principalmente o de passar a experiência acumulada.
Não podemos esquecer que
esse fato era de extrema importância, já que não existem cursos para se tornar mãe e pai,
não é? Por isso, a lembrança da
educação recebida, mesmo que
fosse para ser usada como contra-exemplo, acrescida das dicas dos avós, constituía patrimônio importante na conduta
dos jovens pais.
Agora, cabe a grande parte
dos avós outras funções. Com
os netos, parece que acabou a
festa, e muitos avós precisam
assumir o papel de mãe ou de
pai substituto, respondendo
pela função educativa. Isso tem
ocorrido principalmente porque os jovens pais têm se dedicado intensamente à carreira, à
profissão e à vida pessoal. Além
disso, sabemos que muitos avós
assumiram a responsabilidade
de serem os principais provedores econômicos da família
dos filhos.
Tal fato pode gerar conflitos
entre as gerações: pela dependência econômica, os jovens
pais se sentem dependentes e
sem autonomia para exercer
com autoridade e liberdade seu
papel com os filhos. Um problema a ser superado.
Outra mudança importante
na relação dos avós com seus filhos é justamente no que diz
respeito à transmissão do conhecimento. Como o mundo se
transformou radicalmente,
muitos jovens recusam os conselhos e as dicas que seus pais
poderiam dar na lida com os filhos. Nesse lugar, colocam os
profissionais que, parece, são
considerados mais competentes. E os avós ficam, portanto,
relegados ao segundo plano
nessa importante função.
E os pais? Eles têm construído uma relação de maior proximidade educativa com os filhos: acordam de madrugada,
alimentam os filhos, colocam-nos para dormir, levam-nos para passear etc. E, para as mães,
esse é um fato recebido de modo contraditório, incrivelmente. Por um lado, elas se sentem
apoiadas na árdua missão materna, mas muitas hesitam em
aceitar que os maridos façam as
coisas a seu modo. Outro problema a ser superado.
Pais e avós têm um desafio
em comum: construir um novo
modo de exercer seus papéis na
família contemporânea e contribuir para a formação das novas gerações.
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como
Educar Meu Filho?" (ed. Publifolha)
roselysayao@folhasp.com.br
blogdaroselysayao.blog.uol.com.br
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