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Colecionador de reveses, Maluf adota comportamento de nanico
JOSIAS DE SOUZA
COLUNISTA DA FOLHA
Em setembro de 2000, bem-posto nas pesquisas, Paulo Maluf
dava como favas contadas a passagem para o segundo turno. A
disputa final pela cadeira de prefeito de São Paulo, contra Marta
Suplicy, seria encarniçada. O tratamento mais cortês que recebia
do PT era de "corrupto".
Halo de vitorioso, Maluf reagia
com o timbre que lhe é característico: "Apanhar faz parte da vida.
Ninguém bate em cachorro morto", replicava. "Só jogam pedras
em árvores que têm frutos."
Neste outubro de 2004, enquadrado na moldura que esboçou
quatro anos atrás, Maluf é visto
como carta fora do baralho. Na
estratégia de campanha dos adversários, figura como "cachorro
morto", "árvore sem frutos".
O Ministério Público coleciona
indícios de que Maluf guarda no
exterior uma fortuna supostamente amealhada de forma ilícita.
Procuradores federais farejaram
extratos de bancos da ilha de Jersey e da Suíça. Mas nenhum adversário de Maluf se dispõe a atacá-lo na propaganda eleitoral.
Maluf chega às urnas do primeiro turno de 2004 como uma espécie de sub-Maluf. A julgar pelos
índices das pesquisas, está prestes
a amargar a oitava derrota em
pleitos majoritários.
Em 2000, Maluf dispensava à
petista Marta Suplicy um tratamento acerbo. "Tem candidata
que defende o casamento de homem com homem, mas isso só dá
lobisomem", alfinetava. "De sexo
ela entende. De administração,
não", espicaçava.
Em 2004, Maluf vem ostentando comportamento típico de candidato nanico. Em troca de proteção, arrendou o verbo ao PT. Poupa Marta e enaltece o presidente
Lula: "Ele amadureceu. Realiza
um governo honesto. É um modelo". Simultaneamente, Maluf
esmera-se nos ataques ao candidato José Serra (PSDB), virtual
adversário da petista Marta no segundo turno do pleito municipal.
Em 37 anos de estrada pública,
iniciados em 1967 com a nomeação para a presidência da Caixa
Econômica Federal, Maluf exibiu
uma capacidade de colecionar reveses eleitorais sem permitir que
lhe perturbassem a alma. Sua carreira é pontilhada por um moto-contínuo de infortúnios políticos
e ressurreições.
A biografia de Maluf é monumento à persistência. Onde seus
adversários enxergam ilicitudes,
Maluf não vê senão "pecadinhos
veniais". Acha que , submetido ao
julgamento de Deus, amargará
"15 minutos no purgatório". Depois, vai para o "céu".
No julgamento terreno, antecipado pelos índices das sondagens
eleitorais, o eleitor malufista, em
outros tempos fiel, parece abandonar o candidato.
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