São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002 |
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1986
O gênio que derrubou todo mundo
O mundo ainda não sabia, mas o gênio que na Copa de 1986 marcou um gol de mão e outro driblando cinco jogadores para eliminar a Inglaterra e conquistar o planeta já vivia um drama. Diego Armando Maradona, o filho de operário que crescera no subúrbio de Buenos Aires e virara astro em seu país, na Espanha e na Itália, consumia cocaína entre um show e outro que dava em campo. Algo próximo do inimaginável naquela época. Com um futebol de sonhos, o meia, depois de assombrar os ingleses, derrotou belgas e alemães-ocidentais para erguer a Copa. Quase sozinho, pode-se dizer, mais ou menos como Garrincha em 1962. Ímpeto nascido das lágrimas que derramou aos 17 anos, quando César Menotti o deixou fora da seleção que ganharia a Copa de 1978 _achou-o muito jovem. Não que Maradona não tivesse à época credenciais para tanto. O "Pibe de Oro" ganhou sua primeira bola aos 3 anos, de seu primo Beto Zárate, e, diz-se, dormiu abraçado com ela... Ainda criança, já falava: "Meu primeiro sonho é jogar uma Copa, e o outro é ser campeão". Começou no Estrella Roja, equipe fundada por seu pai em Villa Fiorito, bairro pobre da capital. Aos 10 anos, um amigo, Goyo Carrizo, levou-o para o Cebollitas, time das divisões de base do Argentino Juniors. Dez dias antes de chegar aos 16, já estreava no time principal. Logo estaria na seleção. Um ano após a rejeição de Menotti, fez maravilhas com seu pé esquerdo para ser campeão mundial júnior. A procura pelo sucessor de Pelé, que acabara de se aposentar em campos americanos, parecia estar chegando ao fim. Passou por US$ 2,5 milhões ao Boca Juniors e, na sequência, já era campeão por seu novo time. Logo o Barcelona empenhou US$ 7,9 milhões para tê-lo. Na mesma época, também na Espanha, entrou no Mundial como astro de sua seleção, mas não brilhou. Acabou a Copa expulso. O fim do Mundial não terminou com seus problemas. Uma hepatite o afastou dos campos no final de 1982. Uma entrada sem bola de Andoni Goicoechea, do Athletic Bilbao, rompeu os ligamentos de seu tornozelo. Goicoechea ganhou a alcunha de "El Carnicero de Bilbao" _ e virou ídolo por lá. Na Espanha, Maradona conheceu festas maravilhosas e a cocaína. Sem conseguir brilhar, deixou a Catalunha apenas com fama de garoto rebelde e incontrolável. Ele devolveu na mesma moeda: "Eu vim com muitas ilusões, mas o catalão é um homem muito especial. As pessoas me tratam muito mal, como se eu fosse um inimigo, um estrangeiro que vem roubar seu dinheiro". No verão europeu de 1984, o Napoli da Itália tirou-o do Barcelona por US$ 12 milhões. Após duas temporadas na Itália, chegou ao México pronto para fazer brilhar um time que, sem ele, seria no máximo esforçado. Texto Anterior: Geopolítica: Copa fecha século maior que a ONU Próximo Texto: Fifa: Milhões entram e evaporam Índice |
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