São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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FIFA


Fifa vende Copas por uma fortuna, multiplica os seus torneios, vê braço direito de Havelange subir ao poder e chega perto do centenário com cofres vazios


Milhões entram e evaporam

Juca Varella - 08.jun.98/Folha Imagem
Blatter é elito presidente da Fifa, em 1998


O império da Fifa começou a ser criado de fato na metade dos anos 80. O brasileiro João Havelange, na esteira da parceira com a ISL, nascida em 1982, multiplicou os eventos da entidade máxima do futebol para multiplicar os lucros.
Em 1985, surgia o Mundial juvenil. Em 1989, a Fifa abraçava o futsal, passando a organizar o Mundial da modalidade. Nos anos 90, fez o Mundial feminino e a Copa das Confederações. Em 2000, o Mundial de Clubes.
Além de arrecadar dinheiro, todos os torneios atendiam ao processo de expansão do futebol, uma vez que colocavam em disputa times de todos os continentes. O número de filiados à Fifa superou o de filiados à ONU (Organização das Nações Unidas), o que garantiu Havelange, com votos de quase todos os países, quase duas décadas na presidência.
Com Havelange, a Fifa foi mais do que nunca política, envolvendo-se diretamente em problemas governamentais e conflitos em várias partes do planeta. A Copa de 1986 foi levada para o México por problemas econômicos na Colômbia e também por temor da violência e do narcotráfico.
Já em 1994, os EUA ganharam o Mundial após carta de Ronald Reagan. No total 27 cidades americanas se candidataram para receber jogos, uma satisfação para os anseios financeiros da Fifa, que já havia dado a Copa de 1990 para a Itália, o eldorado do futebol, em detrimento da União Soviética, decadente já no final dos anos 80.
A atuação ditatorial de Havelange no comando da Fifa gerava dúvidas. Contra algumas federações, como as de México e Chile, o dirigente agia com rigor em caso de irregularidade (uso de ‘‘gato’’ ou paralisação de partida). Contra federações poderosas, como a do Brasil, dirigida por seu genro, Ricardo Teixeira, não era rígido.
Os argentinos, em especial Maradona, se levantaram contra o dirigente. Na Copa de 1990, entenderam que foram prejudicados na decisão devido a um desejo de Havelange. Em 1994, Maradona teria sido escolhido para o antidoping depois de criticar o dirigente, que deixou o Brasil como cabeça-de-chave em San Francisco, perto do local da final, e fez outras seleções fortes cruzarem os EUA e jogarem sob forte calor.
Antes de deixar o cargo, Havelange fechou a venda dos direitos das Copas de 2002 e 2006 por US$ 2,24 bilhões para o consórcio suíço-alemão Sporis Kirch.
O suíço Joseph Blatter, braço direito de Havelange _foi secretário-geral dele durante vários anos_, sucedeu o brasileiro em 1998 ao vencer eleição que deixou suspeitas de compra de votos.
Quando assume, já vê a ISL, agência suíça parceira da Fifa, entrar em estranha crise financeira para quem tanto lucrava com a Copa. E, pior, viu a própria Fifa, perto de seu centenário, ficar com os seus cofres quase vazios.



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