São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002 |
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1990
O homem certo no lugar certo
"Nunca fui um artista da bola ou um jogador genial, apenas um obcecado pela eficiência", definiu-se certa vez Lothar Matthaus. Era bem verdade. Ao contrário das outras estrelas da Copa, não fez o nome entortando adversários para enlouquecer a torcida. Mas entrou para a história do futebol ao calhar de ser a peça perfeita para comandar sua seleção no título de 1990, na única das três conquistas da Alemanha em Copas na qual o país era de fato considerado o favorito ao troféu. Se não tinha a centelha de seus "antecessores", Fritz Walter (1954) e Franz Beckenbauer (1974), sobrava-lhe disciplina tática para acender sua equipe. Sua postura impressionou Beckenbauer, seu técnico. "Ele se preocupava demais com tudo, enchia a cabeça e cobrava muito do técnico", diz ele. Na final da Copa de 1986, Beckenbauer escolheu Matthaus para marcar Diego Maradona, a sensação daquele Mundial. Ele era um eficiente meia de 25 anos do time europeu, fundamental na Copa. Mas o treinador ousou "gastá-lo", apostando que poderia anular o gênio argentino. Não deu certo. Maradona pintou em campo o rumo para o título, finalizando com um passe primoroso para Burruchaga marcar o gol do título. Matthaus fracassava na maior missão que lhe havia sido confiada. De novo, repetindo 1982, via sua seleção cair de na final. Seria a última vez. Ganharia após o Mundial mais um título alemão pelo Bayern de Munique, o terceiro seguido. Mas, rompido com os dirigentes do clube, deixou a Alemanha e foi formar com seus compatriotas Andreas Brehme e Jurgen Klinsmann na Inter de Milão do técnico Giovanni Trapattoni. O treinador italiano também viu no alemão as qualidades para liderar sua equipe. "Ele era duro." Na Itália atingiu o auge de sua carreira. Campeão nacional em 1989, virou rei em Milão, coroando uma carreira precoce _ele começou a jogar aos 9 anos num time chamado Herzogenaurach. Nascido em Erlangen, na Bavária, e descoberto pelo técnico Jupp Heynckes, Matthaus estreou aos 19 anos na primeira divisão alemã, defendendo o Borussia Monchengladbach. Já no ano seguinte, começou sua epopéia na seleção alemã. Não foi um início dos melhores. Entrou no meio de um jogo da Eurocopa contra a Holanda, em Nápoles, e cometeu pênalti. Para sua sorte, a seleção ganhou aquele jogo e o torneio. Convocado para a Copa de 1982, era banco. Entrou numa única partida. Depois da segunda decepção, no Mundial mexicano, assumiu de vez as rédeas de sua seleção, comandando seu time e assustando o rival com seus potentes chutes de fora da área. Em 1990, num time acertado e "funcional", sem ser brilhante, sua eficiência deu o tom. Já na estréia, contra a Iugoslávia, fez provavelmente a melhor partida de sua carreira, marcando dois gols e comandando o placar de 4 a 1. Quando começou a ficar clara sua importância, recuou em campo, atraiu a marcação e abriu espaço para subidas surpreendentes dos jogadores de trás. Na primeira fase, "Loddar", como foi apelidado, marcou ainda contra os Emirados Árabes Unidos. Nas quartas-de-final, bateu o pênalti contra a Tchecoslováquia que classificou sua seleção. (Já na final, porém, quando o juiz Edgardo Codesal apontou pênalti a seis minutos do término do jogo, deixou a missão para Brehme, que marcou o gol do título.) Naquele dia, também à sua maneira, conseguiu sua revanche. Do outro lado, estava Maradona, seu adversário preferido e o mais genial. Mas que teve de se render à eficiência de Matthaus. Texto Anterior: Fifa: Milhões entram e evaporam Próximo Texto: Técnica: Craques apanham para luzir Índice |
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