|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TÉCNICA
Talento enfrenta marcação cerrada, táticas defensivas e violência, mas
qualidade do jogo melhora em
todos os continentes com
intercâmbio de técnicos
e jogadores
|
Craques apanham para luzir
A partir do meio dos anos 80 os
gênios começaram a rarear, mas
isso ocorreu em especial pela falta
de condições que esses passaram
a encontrar para mostrar talento.
O último semideus do futebol
mundial teve que vencer marcação individual, dezenas de faltas
de velozes sul-coreanos, paredão
defensivo da Itália, meio time da
Inglaterra, quase meio time da
Bélgica e até árbitro e bandeirinha
para viver seu auge em 1986.
Maradona já tinha experimentado, com uma fratura, a dureza
de ser habilidoso e praticar um futebol refinado no final do século.
Para jogar a Copa de 86, Zico, o
segundo melhor camisa 10 da seleção brasileira, recebeu tratamento especial após sofrer séria
lesão no joelho. Cirurgias de joelho, aliás, passaram a ser algo banal no futebol _a do clássico Falcão serviu até de exemplo na TV.
Em campo, a forte marcação, os
sistemas táticos mais cautelosos e
o desenvolvimento da preparação
física contribuíram para a diminuição dos espaços para os grandes jogadores. Maradona, por
exemplo, teve que produzir lances
geniais para levar a Argentina às
finais das Copas de 1986 e 1990.
Houve uma gradativa substituição de jogadores técnicos por
atletas voluntariosos. Mesmo na
gestão do técnico Telê Santana na
seleção brasileira, a dupla de volantes formada por Falcão e Cerezo deu lugar a Alemão e Elzo.
A partir de 1986, uma seleção teria que passar por quatro matamatas até o título. Disputas de pênaltis ficaram frequentes e passaram a exigir uma especialização
de batedores e goleiros.
Em 1990, o argentino Goycoechea se destacou na Copa apenas
por ser exímio pegador de pênaltis. Taffarel também brilharia nos
Mundiais seguintes com boa performance nesse tipo de lance.
Os goleiros, de uma forma geral,
desenvolveram-se bastante. O italiano Zenga ficou 517 minuto sem
levar em gol em 1990. O colombiano Higuita inovou ao sair com
frequência da área _depois, goleiros bateram faltas e pênaltis.
Em contrapartida, os craques
da linha tiveram que se desdobrar. Os holandeses Gullit e Van
Basten, por exemplo, venceram,
mas sofreram no duro Campeonato Italiano _o primeiro passou por cinco cirurgias só em um
joelho e acabou jogando de líbero;
o segundo deixou o futebol precocemente com lesão no tornozelo.
Romário fez o possível para jogar a Copa de 1990 após sofrer fratura no tornozelo, mas atuou no
sacrifício apenas contra a Escócia.
Quatro anos mais tarde, são, desequilibraria a favor do Brasil com
arrancadas e finalizações precisas.
A técnica de Romário foi contraponto durante a década de 90
ao reinado dos volantes no futebol brasileiro, tido como o mais
técnico do planeta. Desde a ‘‘Era
Dunga’’, os marcadores passaram
a ser tão valorizados pelos técnicos quanto os atacantes estilosos.
O craque alemão Matthaus brilhou muito pelo que fez na frente
e também atrás _veterano, terminou atuando como líbero e batendo recorde de jogos em Copas.
Os jogadores, mais profissionais, passaram a atuar com idade
bem avançada. O camaronês Roger Milla, um dos mais técnicos
jogadores africanos, marcou em
Copas aos 38 e aos 42 anos.
Ele é um dos exemplos de como
a técnica de jogar futebol alcançou todos os continentes. Após
grande intercâmbio de técnicos
pelo mundo, quase todos os países desenvolveram seu futebol e
geraram talentosos praticantes.
A técnica não acabou. Muito ao
contrário, foi disseminada. E vive,
apesar de todas as dificuldades.
Texto Anterior: 1990: O homem certo no lugar certo Próximo Texto: Tática: A ordem agora é defender Índice
|