São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002 |
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1994
O baixinho que quis ser grande
Um ano antes da Copa de 1994, Romário tinha tudo e nada. Marcava um gol atrás do outro pelo PSV e era ídolo na Holanda. Mas pouca gente levava a sério o campeonato local. E, pior, o atacante estava afastado da seleção brasileira, por implicância do técnico Carlos Alberto Parreira. Romário resolveu apostar alto. Ajeitou sua transferência para o Barcelona do técnico Johann Cruyff, talvez a maior vedete do futebol mundial naquela época. A seleção, enquanto isso, suava frio nas eliminatórias para o Mundial. Tinha pela frente um jogo decisivo contra o Uruguai. Se perdesse, daria adeus à Copa. Parreira cedeu e chamou Romário, que, assim como fizera ao chegar à Catalunha, desembarcou no Rio prometendo gols inesquecíveis. E assim fez. Marcou naquele jogo e no Mundial nos EUA, cinco vezes, carregando o Brasil ao título para virar herói e inverter uma trajetória de vida que parecia destinada a dar em nada. Nascido com problemas respiratórios, Romário entrou pela primeira vez em um campo aos três anos. Um tio o fez mascote do Capixaba, time da favela do Jacarezinho, onde morava. Logo depois a família mudou-se para a Vila da Penha. O pai, torcedor fanático pelo América, decidiu montar um time para o filho jogar. Nasceu o Estrelinha. Dois dirigentes vascaínos, chamados Jerônimo e Wilson, viram Romário fazer três gols contra o Tomásio, de Duque de Caxias. Levaram-no para São Januário, mas o técnico do time infantil do Vasco achou-o muito baixo para a posição. Os dirigentes, contrariados, entregaram-no ao Olaria. Rebelde desde então, chegou a ser cortado da seleção de juniores, após ficar na sacada do hotel onde o time estava concentrado mexendo com mulheres na calçada. Mas seu talento o levaria de volta ao Vasco em 1985, e ele acabaria promovido ao time principal pelo técnico Antonio Lopes. Nos dois anos seguintes, seria o artilheiro do Estadual. Em Seul, na Olimpíada, marcou sete vezes e saiu "só" com a prata, numa de suas maiores decepções. O PSV desembolsou US$ 6 milhões e o levou. Antes de viajar, Romário, então com 22 anos, casou-se com Mônica Santoro, 17, que conhecera em São Januário _ela ia aos treinos acompanhar o irmão nos times de base. Logo começaria a fazer o nome na seleção. Em 1989, marcou o gol do título da Copa América. Mas no ano seguinte sofreu contusão séria e acabou passando em branco a Copa da Itália. Anos depois, em Barcelona, Romário, que se vangloria de não usar cuecas e de desfilar sapatos Salvatore Ferragamo, voltou a se destacar. Ganhou badalação e dinheiro. Mas seguiu repetindo: "Tenho três qualidades: simplicidade, honestidade e sou amigo dos meus amigos." Texto Anterior: Tática: A ordem agora é defender Próximo Texto: Dinheiro: Inflação leva a bola ao bilhão Índice |
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