São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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DINHEIRO


Mundiais, assim como os craques e os clubes, são supervalorizados, e a Fifa, sustentada por firmas como a Coca-Cola, vê o marketing milionário se atrelar à Copa


Inflação leva a bola ao bilhão

Patrícia Santos - 15.jul.98/Folha Imagem
Torcedor protesta na chegada da seleção brasileira ao Rio após derrota na final da Copa de 1998


O futebol experimentou gradativamente uma superinflação. Os valores em torno do esporte mais popular do mundo explodiram e, mesmo nunca sendo bem entendidos por muita gente, foram crescendo até a virada do século.
Maradona, o homem de US$ 6 milhões no começo dos anos 80, ganhou US$ 30 mil de bicho pelo título da Copa de 1986, assim como todos os seus companheiros. Mas, se o Brasil tivesse ganho aquele Mundial no México, cada atleta receberia US$ 150 mil.
Em pouco tempo vários jogadores superaram o vultoso valor pago pelo Barcelona por Maradona. O magnata Silvio Berlusconi foi só um dos homens que injetaram grande quantia em um clube. Pagou quase US$ 10 milhões por Gullit após a Copa-86. Detalhe: o holandês não jogou no Mundial.
O profissionalismo foi elevado ao cubo pelos clubes, que passaram a criar poderosas associações e a colocar ações em bolsas de valores, pelos jogadores, que lutaram para receber direitos de imagem e pela liberdade de trabalhar, e pelas seleções também.
Na Copa de 1990, a seleção brasileira mostrou bem isso. A equipe tinha patrocínio da Pepsi, mas os atletas, a maioria deles radicados no rico futebol europeu, taparam o nome da empresa no uniforme em uma foto oficial.
Mesmo o técnico da seleção, Sebastião Lazaroni, aproveitou o Mundial para faturar. Fez comercial da Fiat e, depois do torneio, conseguiu espaço no futebol italiano, onde treinou a Fiorentina _Telê Santana já havia lucrado em 1986 com comerciais de TV.
Taffarel terminou o Mundial de 1994 com a taça na mão, mas recebeu uma multa de US$ 15 mil e foi suspenso por dois jogos oficiais porque trocou as luvas que usou no jogo com o objetivo de exibir publicidade _tudo isso mesmo com a CBF pagando quase US$ 100 mil de bicho pelo tetra.
As federações nacionais se rendiam cada vez mais a poderosas fornecedoras de material esportivo. Depois de jogar em 1990 com a brasileira Topper, o Brasil foi para a Copa de 1994 com roupa da inglesa Umbro. Em 1998, se renderia aos milhões da multinacional americana Nike _contrato feito em 1996 girou US$ 160 milhões.
A Nike em 1998 fez frente ao poder da Adidas, uma das empresas que sustentam financeiramente a Fifa _a Coca-Cola, que patrocina o ranking da entidade, é outra.
Os comitês organizadores das Copas também procuraram ampliar fontes de receita. Em 1990, os italianos inovaram criando mascote que não era um bicho _o boneco Ciao_, mas a idéia não chegou a vingar como era esperado comercialmente. Em 1994, os americanos, mesmo sem tradição no futebol, lucraram vendendo até moedas e selos da Copa e com o recorde histórico de público nos estádios em Mundiais (68.991 pessoas, em média, por partida).
Antes da Copa de 1998, a Fifa já entrava na casa do bilhão. Os direitos sobre os Mundiais de 2002 e 2006 foram vendidos por US$ 2,24 bilhões. O primeiro foi negociado por US$ 1,04 bilhão, e o segundo, por US$ 1,2 bilhão _em 1998, o magnata Rupert Murdoch oferecia também US$ 1,03 bilhão pelo Manchester United (ING).
Pouco antes da Copa de 1998, os valores das transferências dos jogadores já superavam normalmente os US$ 30 milhões.
A Inter tirou o atacante brasileiro Ronaldo do Barcelona pagando uma rescisão contratual de quase US$ 32 milhões. A conta até que saiu barata para o time de Milão, pois o modesto Betis, da Espanha, desembolsou cerca de US$ 35 milhões pelo jovem meia-atacante Denílson, do São Paulo, na maior transação envolvendo um time não-europeu na história.
Todos os limites pensados para valores no futebol foram batidos.



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