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Sem o WTC, cidade retoma seu ritmo, mas os nova-iorquinos mudaram
DE NOVA YORK
Nova York parece a mesma,
mas é claro que algo está faltando,
principalmente na paisagem sul
da ilha. E não só esteticamente.
Segundo a Autoridade Portuária
de Nova York e Nova Jersey, dona
do terreno onde ficavam as Torres Gêmeas, Manhattan está mais
vulnerável a raios.
É que os dois prédios atraíam os
raios e os descarregavam em segurança no solo. No dia 2, durante
uma tempestade, um morador foi
morto por uma descarga na cobertura de um prédio de seis andares nas imediações de Chinatown, vizinha ao Ponto Zero.
"Isso não teria acontecido se o
World Trade Center ainda estivesse ali", disse Jack Buchsbaum,
da Autoridade Portuária. Mas
não está mais. No lugar, um clarão de 64 mil metros quadrados
entre as ruas Liberty, Church e
Vesey e a West Side Highway.
Com 20 metros de profundidade, o buraco terá seu destino definido somente no final do ano. Enquanto isso, ficará quase parado
no tempo. Ao seu redor, no entanto, a cidade mais rica do país
mais rico do mundo continua a
acontecer. Uma volta a pé por Nova York comprova isso.
Os motoristas de táxi continuam de mau humor e falando
mau inglês, os quarteirões continuam cheios de "delicadezas e
grosserias" (delicatessens e grosseries, vendas e armazéns), como
cantava Tom Jobim, e ainda há sete ratos por habitante.
Mas as pessoas mudaram. Estão
mais temerosas. Pelo menos é o
que afirma pesquisa divulgada na
última semana, segundo a qual
72% dos nova-iorquinos acreditam na possibilidade de um novo
ataque na cidade. Destes, 28% esperam um carro-bomba ou um
homem-bomba, 20% prevêem
um ataque biológico e 16% esperam um com arma química.
O levantamento foi feito pelo
instituto Blum & Weprin a pedido do jornal "New York Daily
News" e ouviu nos dias 20 e 21 de
agosto 503 adultos residentes.
Apesar disso, outro estudo divulgado no começo da semana
pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças atesta que poucas
pessoas da região (Nova York,
Nova Jersey e Connecticut) procuraram alguma ajuda psicológica ou psiquiátrica pós-ataque.
Dos que afirmaram ter sofrido
excepcionalmente desde então
(75%), menos de 12% disseram
ter ido ao médico em busca de solução. Dos 3.512 ouvidos, 4% dos
homens recorreram ao álcool e
2% das mulheres, ao cigarro.
Chegou a crescer a procura por
conforto espiritual e religioso,
mas a "bolha" já estourou, segundo padres ouvidos pela Folha. Entre os endinheirados, os moradores do Upper East Side de Manhattan, que reúne o maior PIB
dos EUA, surgiu uma nova tendência: o voluntariado.
Muitos atendem ao chamado
feito pelo presidente George W.
Bush, de que cada norte-americano doe 4.000 horas ao longo de
sua vida para o trabalho voluntário. Outros estão apenas seguindo
a onda. Assim, a ONG New York
Cares, que atendeu 48 mil nova-iorquinos no ano passado, viu
seus colaboradores crescerem
25% depois de 11 de setembro.
Já a Cruz Vermelha diz que 276
mil pessoas deram sangue pela
primeira vez entre 11 de setembro
e 1º de outubro, mas, desde então,
só 20% foram para a segunda vez.
Como tudo na cidade, o ataque
custou muito dinheiro. De acordo
com a prefeitura, entre prejuízos e
gastos extraordinários, o 11 de setembro tirou da cidade algo entre
US$ 83 bilhões e US$ 95 bilhões e
pelo menos 146 mil empregos,
além de ser responsável pela metade do déficit de US$ 6 bilhões
previsto para 2002.
Paradoxalmente, há pelo menos
US$ 1 bilhão de doações privadas
feitas pelo mundo inteiro para os
parentes das vítimas de Nova
York que ainda repousam nos cofres de entidades beneficentes como a Cruz Vermelha e não chegaram a quem precisa do dinheiro
por excesso de burocracia ou falta
de informação.
(SD)
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