São Paulo, domingo, 08 de setembro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem o WTC, cidade retoma seu ritmo, mas os nova-iorquinos mudaram

DE NOVA YORK

Nova York parece a mesma, mas é claro que algo está faltando, principalmente na paisagem sul da ilha. E não só esteticamente. Segundo a Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey, dona do terreno onde ficavam as Torres Gêmeas, Manhattan está mais vulnerável a raios.
É que os dois prédios atraíam os raios e os descarregavam em segurança no solo. No dia 2, durante uma tempestade, um morador foi morto por uma descarga na cobertura de um prédio de seis andares nas imediações de Chinatown, vizinha ao Ponto Zero.
"Isso não teria acontecido se o World Trade Center ainda estivesse ali", disse Jack Buchsbaum, da Autoridade Portuária. Mas não está mais. No lugar, um clarão de 64 mil metros quadrados entre as ruas Liberty, Church e Vesey e a West Side Highway.
Com 20 metros de profundidade, o buraco terá seu destino definido somente no final do ano. Enquanto isso, ficará quase parado no tempo. Ao seu redor, no entanto, a cidade mais rica do país mais rico do mundo continua a acontecer. Uma volta a pé por Nova York comprova isso.
Os motoristas de táxi continuam de mau humor e falando mau inglês, os quarteirões continuam cheios de "delicadezas e grosserias" (delicatessens e grosseries, vendas e armazéns), como cantava Tom Jobim, e ainda há sete ratos por habitante.
Mas as pessoas mudaram. Estão mais temerosas. Pelo menos é o que afirma pesquisa divulgada na última semana, segundo a qual 72% dos nova-iorquinos acreditam na possibilidade de um novo ataque na cidade. Destes, 28% esperam um carro-bomba ou um homem-bomba, 20% prevêem um ataque biológico e 16% esperam um com arma química.
O levantamento foi feito pelo instituto Blum & Weprin a pedido do jornal "New York Daily News" e ouviu nos dias 20 e 21 de agosto 503 adultos residentes.
Apesar disso, outro estudo divulgado no começo da semana pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças atesta que poucas pessoas da região (Nova York, Nova Jersey e Connecticut) procuraram alguma ajuda psicológica ou psiquiátrica pós-ataque.
Dos que afirmaram ter sofrido excepcionalmente desde então (75%), menos de 12% disseram ter ido ao médico em busca de solução. Dos 3.512 ouvidos, 4% dos homens recorreram ao álcool e 2% das mulheres, ao cigarro.
Chegou a crescer a procura por conforto espiritual e religioso, mas a "bolha" já estourou, segundo padres ouvidos pela Folha. Entre os endinheirados, os moradores do Upper East Side de Manhattan, que reúne o maior PIB dos EUA, surgiu uma nova tendência: o voluntariado.
Muitos atendem ao chamado feito pelo presidente George W. Bush, de que cada norte-americano doe 4.000 horas ao longo de sua vida para o trabalho voluntário. Outros estão apenas seguindo a onda. Assim, a ONG New York Cares, que atendeu 48 mil nova-iorquinos no ano passado, viu seus colaboradores crescerem 25% depois de 11 de setembro.
Já a Cruz Vermelha diz que 276 mil pessoas deram sangue pela primeira vez entre 11 de setembro e 1º de outubro, mas, desde então, só 20% foram para a segunda vez.
Como tudo na cidade, o ataque custou muito dinheiro. De acordo com a prefeitura, entre prejuízos e gastos extraordinários, o 11 de setembro tirou da cidade algo entre US$ 83 bilhões e US$ 95 bilhões e pelo menos 146 mil empregos, além de ser responsável pela metade do déficit de US$ 6 bilhões previsto para 2002.
Paradoxalmente, há pelo menos US$ 1 bilhão de doações privadas feitas pelo mundo inteiro para os parentes das vítimas de Nova York que ainda repousam nos cofres de entidades beneficentes como a Cruz Vermelha e não chegaram a quem precisa do dinheiro por excesso de burocracia ou falta de informação. (SD)


Texto Anterior: Balanço: Ninguém sabe quantos morreram
Próximo Texto: Nova doutrina: Bush se reinventou após ataques
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.