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BALANÇO
Um ano depois, não há em Nova York quem saiba quantas
pessoas morreram exatamente na maior tragédia da história dos Estados Unidos. No dia do atentado, as estimativas chegaram a 50 mil mortos; o número oficial mais recente é de 2.801. Para os nova-iorquinos,
porém, o medo ganhou mais significado do que os números
Ninguém sabe quantos morreram
DE NOVA YORK
Um ano depois, o repórter sai
com a missão de descobrir quantas pessoas exatamente morreram no dia 11 de setembro de 2001
em Nova York. "Da última vez
que chequei, eram dois mil, oitocentos e tantos", aproximou o
prefeito Michael Bloomberg em
encontro com a imprensa estrangeira na última quarta-feira.
"Quase 3.000 pessoas, não é?",
responde à Folha Peter L. Rinaldi,
funcionário da Autoridade Portuária de Nova York e Nova Jersey, cujo cargo oficial é o de gerente-geral da área onde ficava o
World Trade Center, mas que
funciona como prefeito do chamado Ponto Zero.
"Mais do que poderemos suportar", disse na primeira entrevista coletiva depois do ataque
terrorista o então prefeito Rudolph Giuliani -uma frase profética, que respondia à mesma
pergunta e que nunca foi corrigida por um número final.
A verdade é que, até agora, ninguém sabe ao certo quantas vítimas teve o World Trade Center.
No próprio dia falava-se em 20
mil a 50 mil pessoas (de fato, 25
mil conseguiram ser retiradas
com vida dos dois prédios naquele dia), número que caiu para
6.500 nas semanas seguintes e que
passou meses estacionado perto
de metade disso.
Como a cerimônia se aproxima
e na manhã do dia 11 o ex-prefeito
Giuliani lerá os nomes do que a
prefeitura considera que sejam
todos os mortos e desaparecidos
naquele dia, o governo divulgou
na noite de sexta-feira o que chamará de número provisoriamente
oficial: 2.801 pessoas.
Destes, 1.389 tiveram os restos
mortais identificados, sendo que
600 deles por DNA, e pouco menos do que isso recebeu atestado
de óbito emitido por tribunais especiais com base apenas em evidências circunstanciais apresentadas pelas famílias, sem que os
corpos tenham sido encontrados.
Restam 70 casos, que estão na categoria "desaparecidos".
Só que isso não é inteiramente
verdade, pois, desde que a prefeitura colocou uma força-tarefa para investigar a lista, no fim do mês
passado, pelo menos oito pessoas
foram achadas vivas, e muitos estrangeiros dados como mortos
pelos consulados acabaram aparecendo com vida em seus países
de origem.
Ainda, duas pessoas que morreram dias depois de 11 de setembro
em hospitais fora de Nova York,
mas de ferimentos causados pelo
ataque, serão incluídas, ao mesmo tempo que se excluirá o nome
de uma mulher que aparecia duas
vezes, com o sobrenome de solteira e de casada.
Há também os que simplesmente se recusaram a pedir atestado de óbito, a maioria parentes
de bombeiros. "Eu não estou iludida nem acho que meu marido
vai voltar para casa", diz Donna
Hickey, mulher do capitão Brian
Hickey, listado entre os desaparecidos. "Mas um pedaço de papel
não vai mudar nada para mim."
E as fraudes. Desde o ataque, pelo menos 70 casos foram detectados pelo FBI (a polícia federal dos
EUA), todos de pessoas que afirmavam ter perdido parentes naquele dia, muitas vezes com a
cumplicidade do próprio, que
"desaparecia" por uns tempos.
Até agora, 25 foram processados.
Outras listas
Enquanto isso, o departamento
de polícia trabalha com uma lista
interna em que soma 2.823 desaparecidos e mortos; já as relações
mantidas por organizações de mídia norte-americana variam entre
2.786 a 2.814, sendo o último o número da agência de notícias Associated Press, considerado por
muitos o mais fiel.
De certo mesmo e incontestável
só o número de mortos no choque do vôo contra o Pentágono e
na queda do avião na Pensilvânia:
184 e 40 pessoas, respectivamente.
Mas também aí reside uma polêmica: há listas que incluem os sequestradores nos números, que
passam então para 189 e 44.
Outras optam por deixá-los de
fora. Afinal, eles não são exatamente "vítimas", dizem.
(SÉRGIO DÁVILA)
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