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País contrasta cidades industriais e aldeias típicas, mantras budistas e barulho do trânsito, prédios de luxo e feiras populares, condimentos e sorvete de chá
Meu táxi fala inglês
Caio Vilela/Folha Imagem
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Táxi Ulsan oferece serviço de tradução para o usuário que fala inglês, chinês ou japonês se comunicar com os taxistas locais |
ANA LUCIA BUSCH
DIRETORA-EXECUTIVA DA FOLHA ONLINE
CAIO VILELA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A representação mais perfeita
da Coréia está justamente no centro da sua bandeira, no círculo dividido ao meio. O vermelho na
parte superior simboliza o Yin (o
masculino, o ativo, o céu, o dia), e
o azul, abaixo, o Yang (o feminino, o passivo, a terra, a noite). Na
junção dos opostos, a harmonia
entre as duas forças cósmicas que
regem o universo.
Mas essa imagem de dualidade
poderia também simbolizar as diferenças gritantes entre a modernidade da capital Seul e a paisagem rural, embora tecnologicamente avançada, das regiões
montanhosas que ocupam grande parte do país. Ou entre a indústria pesada de Ulsan e o universo
das aldeias tradicionais. Ou ainda
a divisão da pequena península
mergulhada no Pacífico entre Coréia do Norte e Coréia do Sul, o último rincão do planeta ainda dividido por questões ideológicas.
Na chegada a Seul, porto de entrada no país e umas das maiores
cidades do mundo, os contrastes
já se tornam evidentes. Um passeio a pé coloca lado a lado a torre
Jongno, marco da arquitetura
moderna da cidade, que oferece
uma das vistas mais espetaculares
do local, e o mercado Namdaemun, onde roupas e sapatos baratos e de qualidade inferior dividem espaço com brinquedos, ervas medicinais e souvenires.
Ainda no centro da cidade, jovens lotam a rua Insa-dong, famosa por suas lojas de antiguidades, galerias de arte e barracas de
comida típica, enquanto a poucos
metros monges budistas entoam
mantras no templo Jogyesa.
Tudo isso envolvido todo o
tempo pelo barulho do trânsito,
pela fumaça e, na primavera, por
uma atmosfera em preto-e-branco, criada pela poeira amarela
vinda dos desertos da Manchúria,
que encobre todo o país. À noite,
isso perde importância perto do
colorido infernal do neon, que
ilumina a cidade inteira.
Mas a aparente atmosfera de
modernidade revela suas limitações para os jovens coreanos,
pouco interessados em qualquer
espécie de literatura, música ou
arte ocidental ou moderna. A moda também desperta pouco interesse, embora as vitrines sofisticadas ocupem muito espaço.
O futebol, por outro lado, faz
parte do vocabulário de todo
mundo. De 30 pessoas ouvidas
pela Folha, 21 citaram o esporte
como o seu predileto. Mas logo na
primeira entrevista, Park Jin-sun,
que trabalha como vendedor em
uma loja de departamento, não
hesitou em citar o futebol de Maradona como a primeira imagem
que associa ao Brasil. Uma exceção: a imagem dos brasileiros vem
sempre ao lado do futebol, do
Carnaval e do samba, e Pelé, Rivaldo e Ronaldinho já ocupam espaço no imaginário popular.
A comida é um mundo à parte,
que não permite qualquer comparação com os vizinhos japoneses e chineses. Os temperos picantes, presentes do café da manhã
ao jantar, agridem o paladar dos
ocidentais desavisados. Arroz, algas, cogumelos e vegetais curtidos
em condimentos misteriosos
compõem o café da manhã, junto
com o Kimchi -preparado de
acelga com alho e outros temperos que se faz presente na mesa
coreana nas três refeições. Nos
mercados e nas ruas, o ginseng e o
chá dividem as atenções com opções bem menos sofisticadas, de
larvas de insetos a cascas de árvore e folhas de sabor insípido. Para
a sobremesa, um sorvete de chá
verde ou doces de arroz e mel são
as melhores opções.
Fora de Seul, as luzes são menos
intensas, mas ainda assim a tecnologia de ponta sobrevive lado a
lado com as paisagens rurais. Os
lugares mais tradicionais, e mais
interessantes, aliás, estão distantes das cidades grandes e dos estádios moderníssimos construídos para a Copa.
Nos arredores de Gyeongyu, a 4
horas de trem ao sul de Seul, por
exemplo, ficam alguns dos templos mais belos do país e a aldeia
de Andong, que recebe diariamente centenas de turistas interessados em conhecer as casas construídas de modo tradicional.
Sem preocupação com a avalanche de turistas estrangeiros (os
chineses invadirão as sedes da
Copa), os pequenos vilarejos praticamente não se prepararam. A
comunicação é impossível mesmo para quem fala inglês, e qualquer passeio independente deve
considerar o tempo que se perde
buscando a rua certa, o restaurante, que qualquer ocidental vai ser
incapaz de identificar apenas pela
placa, e o ônibus para ir embora.
Nas cidades industriais, bem
mais áridas, a comunicação é
mais fácil, mas os atrativos diminuem. Em lugares como Ulsan,
que hospeda o Brasil em sua chegada a Coréia, um serviço criado
especialmente para a Copa oferece tradução gratuita do coreano
para inglês, japonês e chinês nos
táxis e hotéis de pequeno porte
que têm o adesivo "free interpretation" na entrada. O sistema é
simples: um telefone celular dentro do táxi ou na recepção do hotel conecta o turista a uma central que faz o serviço de tradução.
Mas a cidade oferece pouco
mais que um centro tomado por
refinarias de petróleo, montadoras, estaleiros e indústria de maquinaria pesada, quase tudo dominado pela Hyundai.
Entre as cidades onde haverá jogos, Seogwipo é a que mais tem a
oferecer ao turista. Localizada na
ilha de Jeju, a 2 horas de vôo de
Seul, Seogwipo está rodeada de
cachoeiras, vulcões, piscinas de
águas termais, templos e praias.
A ilha se orgulha de abrigar a
montanha mais alta da Coréia, o
vulcão Halla. Paraíso dos casais
coreanos em lua-de-mel, considerada o Havaí da Coréia, onde o inglês é falado por toda parte.
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