Mulheres enfrentam um mundo de privações e dores para desfilar nas passarelas

Na semana passada, 27 selecionadas disputaram título de miss Ribeirão Preto; para estilista, requisito é ter perfil de uma top model

DA FOLHA RIBEIRÃO

O que leva algumas mulheres a nunca saírem de casa, mesmo durante o dia, sem maquiagem, a se preocuparem constantemente com o corpo, o cabelo e a alimentação, a fazerem bronzeamento artificial, viverem em academias e fazerem lipoaspiração ou buscarem prótese de silicone? O sonho de ser modelo ou até mesmo miss é uma das explicações para que as mulheres se submetam a um mundo de privações e dores.
Inspiradas em modelos de Ribeirão que fazem sucesso no mundo da moda, como Carla Luque, Carol Del Lama e Letícia Wiermann, centenas de jovens se aventuram no mundo fashion, sem medir esforços.
Noventa mulheres perseguindo o sonho da fama se inscreveram na seletiva do concurso Miss Ribeirão, que não era realizado havia nove anos. Na semana passada, na Recreativa, 27 selecionadas disputaram a coroa de miss, entre elas estudantes universitárias.
Uma das selecionadas foi Thalita Maschietto, 17. Entre as atividades, que incluem aulas no curso pré-vestibular -ela pretende cursar jornalismo-, estão malhar na academia todos os dias, fazer aulas de taekwondo duas vezes por semana e visitar o cabeleireiro semanalmente. Sair de casa sem blush e lápis, nunca.
"Não é para agora, mas pretendo fazer tratamento estético e colocar silicone, para satisfação pessoal. Sou muito vaidosa, às vezes até exagero na preocupação com a beleza."
Já Sâmara Iara, 20, estudante de enfermagem, foi incentivada a seguir a carreira de modelo após ficar em segundo lugar no minimiss Ribeirão 1998.
"Depois disso, comecei a trabalhar como modelo de passarela por dois anos e também em eventos. Cheguei a receber uma proposta para trabalhar no Japão, mas optei por não me aventurar fora daqui", disse.
Para se cuidar, Sâmara malha, cuida da pele e faz bronzeamento artificial. Dependendo do mês, gasta até R$ 300.
Para o estilista Salvatore Laureano, jurado do evento, concursos são importantes porque, hoje, já se pode falar em uma fusão de miss e top model. "Uma miss não é mais a dondoquinha de nariz empinado e mãozinha para trás que só lia "Pequeno Príncipe". Ela hoje tem o perfil de uma top model, o corpo, o jeito de andar e a expressão são de uma top model."
Mas é preciso ter os pés no chão, segundo Cesar Augusto da Silva, diretor da agência CRC. "O mundo que as modelos de sucesso de Ribeirão estão vivendo e o sucesso que estão obtendo não é para todos. Muitas desistem por causa das dificuldades", afirmou.
Segundo ele, modelo em início de carreira consegue renda de R$ 3.000 a R$ 4.000, mas gasta valor equivalente para se manter. "Conseguem esse valor dependendo da sorte. E, no começo, a pessoa gasta isso para se manter, se cuidar."
Se, passadas as adversidades iniciais, a pessoa deslanchar na carreira, poderá obter cachês de até R$ 300 mil na Europa. "Temos dois modelos da CRC que vão para a Grécia produzir um catálogo de moda, ganhando 19 mil euros. Mas esse tipo de trabalho fechado, com esse valor livre, é raro." (MARCELO TOLEDO e FERNANDA CICILLINI)


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