São Paulo, domingo, 26 de setembro de 2004 |
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FÉ E PODER Religiosos entram na eleição apesar da orientação contrária da igreja Nordeste tem 14 padres candidatos
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA DA AGÊNCIA FOLHA Um grupo de padres do Nordeste deixou de lado, por um tempo, sermões, missas, casamentos e batismos para se engajar na política partidária, mesmo desobedecendo normas da Igreja Católica. Nas eleições municipais deste ano, 14 padres são candidatos a prefeito, em cinco Estados do Nordeste (sete na Bahia, dois em Pernambuco, dois no Piauí, dois no Maranhão e um no Ceará). Parte da lista foi informada pelo deputado estadual frei Anastácio (PT-PB), que tem sido um dos organizadores de um fórum de padres candidatos da região. Os demais foram encontrados em consulta à lista de candidatos do TSE. Segundo o deputado, a idéia do fórum é trocar experiências para ser possível construir um modelo de administração com a marca registrada da religiosidade. "Muitas vezes, a teoria é um pouco afastada da prática. Temos que mostrar que a vida espiritual não está desligada do cotidiano das pessoas", disse o padre Petrônio de Fátima Bonfim Alves (PT), 43, candidato a prefeito de Itagiba (BA). Candidato pela primeira vez, padre Petrônio discorda da atitude "imparcial" adotada pela igreja sobre questões políticas. "Não que a igreja seja omissa, mas essa postura, muitas vezes, serve como suporte para que as coisas fiquem como sempre estiveram. Às vezes, isso dá cansaço." A opção político-partidária dos padres candidatos tem uma característica ideológica bastante heterogênea: vai do PT até o PFL, passando por siglas pequenas como PHS, PMN e PSDC. A igreja trata da militância política de padres no Código de Direito Canônico, que deve ser obedecido pelos clérigos. O parágrafo terceiro do cânon (norma) 285 diz que "os clérigos são proibidos de assumir cargos públicos, que implicam participação no exercício do poder civil". Já o parágrafo segundo do cânon 287 diz: "os clérigos não tenham parte ativa nos partidos políticos e na direção de associações sindicais, a não ser que, a juízo da competente autoridade eclesiástica, o exijam a defesa dos direitos da igreja ou a promoção do bem comum". A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) tem reforçado tais instruções ao recomendar que os padres não participem de disputas eleitorais (leia texto nesta página). Mas o padre José Comblin, 81, belga radicado no Brasil desde 1958, que chegou a ser expulso do país em 1972 por ser considerado "subversivo", é um dos principais defensores da ação político-partidária de padres e tem sido um dos organizadores dos encontros de padres candidatos. O padre Francisco Marques Mota (PP), 43, candidato a prefeito em Itapajé (CE), acha que sua experiência política tem sido importante até para as funções eclesiásticas. Texto Anterior: Mais de 2.700 prefeitos brasileiros concorrem à reeleição Índice |
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