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Sociedade
Jovem se organiza na igreja
PARTICIPAÇÃO EM ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS
BATE DE LONGE A REUNIÃO EM GRUPOS POLÍTICOS
[Por Juliana Lugão, Colaboração para a Folha]
O som ensurdecedor dos
acordes da guitarra era acompanhado
pelas cabeças que
balançavam ao mesmo ritmo
das batidas do baterista e de
uma letra que não se entendia
muito bem. A cada intervalo
da música, uma mensagem de
amor a Jesus Cristo. A noite se
estenderia madrugada adentro,
com poucas variações
entre os shows do Crash Social
Concert, organizado por
membros da Crash Church.
Talita Floriano, 18, não estava
lá por causa da música -ela
prefere hard rock dos anos
1980-, mas porque se sente
bem no meio daquela galera.
Ela faz parte dos 39% de jovens
que declararam se organizarem
em igrejas, segundo
a pesquisa Datafolha.
Na "Crash", Talita pode se
vestir como gosta. Filha de
fundadores de uma igreja batista,
ela está cada vez mais
próxima do ministério underground
e tem o sonho de ter
uma loja na Galeria do Rock.
Uma loja evangélica.
Diferentemente dos membros
da Crash Church, que
acreditam que Jesus era underground
e se vestem, em
sua maioria, com roupas
pretas e soturnas, na Bola de
Neve Church os meninos aparecem
de bermuda florida, as
meninas com vestidinhos e o
pastor de topete. No templo,
fotografias de surfistas num
tubo não fazem parte de um
conceito religioso: é apenas questão estética.
A adesão é tanta que a fila na porta da sede da
"Bola", em Perdizes, São Paulo, chega à rua no
intervalo entre cultos aos domingos.
Ao entrar no templo, vê-se um auditório
para cerca de 2.000 pessoas e uma prancha
de surfe no lugar do altar -uma alusão ao início
dessa congregação religiosa, que começou
dentro de uma loja de "surfwear".
Depois de uma oração fervorosa, com rostos
apertados, olhos de sofrimento e uma salva de
palmas -para Jesus-, luzes são diminuídas e
um set de cinco músicas, com direito a performance
de dança, inicia o culto. As músicas têm
melodia fácil e as letras de louvor a Cristo aparecem
no telão para que até quem está lá pela
primeira vez possa cantar junto.
A Bola de Neve Church, segundo o pastor do
culto do domingo, começou como uma igreja
100% jovem e hoje é "só 70%". Muitos jovens
acabaram levando os pais.
Talita Floriano, meio batista renovada, meio
underground, vê a diversidade de cultos com
bons olhos. "É necessário que haja essa diversificação para que cada um se sinta bem."
Manuel Rodrigues de Souza Jr., professor
de crisma na paróquia de São Judas, percebe
que os jovens vão à igreja com mais vontade.
Segundo o professor, na época em que começou
a formar crismandos, a
procura era maior. Mas quase
todos iam para cumprir uma
obrigação. Hoje, ele diz notar
menos jovens que estão ali
por determinação dos pais.
Em um retiro dominical na
chácara da própria paróquia, a
maioria estava lá por determinação
familiar, mas todos pareciam
bem à vontade com os
amigos que encontraram ali,
com as paqueras que começavam
e os temas discutidos.
É o caso de Guilherme Fiorentini,
16. Por sugestão dos
pais, ele entrou junto com sua
irmã, Mariana, 13, para as aulas
que os preparariam para a
crisma. Falante e combativo,
Guilherme sempre coloca seu
ponto de vista nas conversas.
Seu maior sonho é ter uma
ONG que ajude as pessoas que
não têm educação. Fã de Raul
Seixas, tem medo de que o
mundo se transforme em um
grande parque de concreto,
sem áreas naturais. Nada de
muito diferente da maioria
dos jovens -por mais que ele
não acredite nisso.
O padre Darcy Augusto, que
foi ao festival de música eletrônica
Skol Beats em 2006
a convite da Folha e declarou
que Deus estava lá, afi rma que
a Igreja Católica já consegue
manter os jovens fiéis. O desafio, acredita ele, é fazer com
que eles venham até ela.
Falta inventar a igreja do
eletrônico?
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